LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
Cada um reagiu a sua maneira com o fim do caso. Neném com seu jeito
irreverente, de felina, e piadas ácidas que todos estavam acostumados. Dedé,
com sua forma de esconder seu lado sensível, sem muito sucesso algumas
noites, como naquele episódio, até hoje lembrado pela malandragem, quando
chorou como criança, em baixo de uma mesa do bar, gritando por ela.
“Eu acabei de vim de lá. Consegui fazer ela comer um pouquinho e tomar
água. Agora falei pra ela maneirar na bebida, por que tá fazendo mal”, contava
Dedé bebericando qualquer coisa, o seu feito de conseguir com que a mulher que
não se alimentava por três dias, devido à uma infecção brava nos rins, comer.
O simples gesto, no fundo, era mais do que parecia. Uma demonstração de
carinho, respeito e cuidado, por tudo que havia acontecido. Aventuras sexuais e
amorosas, término, a cara virada um para o outro por um tempo, o retorno da
amizade nas mesas. Explicar todas essas fases, de forma detalhada, talvez seja
missão comparada a descrever a beleza de uma noite de lua cheia. Ainda que
com muitas palavras, só entende o que aconteceu aquele que esteve ali, e olhou
para o céu.
“Só quero sua saúde nega, você já cuidou muito de mim quando eu
precisei”, lembrava-se da época onde Neném, depois dos episódios passados,
como uma verdadeira amiga, o ajudou quando voltou sem nada para a área de
outro estado, numa tentativa frustrada de arrumar algum.
Aquela marmita era algo maior que alimentar uma fome, que cuidado. Em
meio a um ambiente hostil, a dureza não foi capaz de tirar a ternura de ser, da
construção e transformação de vínculos.
derbyprata.wordpress.com
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