Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 231

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 Cada um reagiu a sua maneira com o fim do caso. Neném com seu jeito irreverente, de felina, e piadas ácidas que todos estavam acostumados. Dedé, com sua forma de esconder seu lado sensível, sem muito sucesso algumas noites, como naquele episódio, até hoje lembrado pela malandragem, quando chorou como criança, em baixo de uma mesa do bar, gritando por ela. “Eu acabei de vim de lá. Consegui fazer ela comer um pouquinho e tomar água. Agora falei pra ela maneirar na bebida, por que tá fazendo mal”, contava Dedé bebericando qualquer coisa, o seu feito de conseguir com que a mulher que não se alimentava por três dias, devido à uma infecção brava nos rins, comer. O simples gesto, no fundo, era mais do que parecia. Uma demonstração de carinho, respeito e cuidado, por tudo que havia acontecido. Aventuras sexuais e amorosas, término, a cara virada um para o outro por um tempo, o retorno da amizade nas mesas. Explicar todas essas fases, de forma detalhada, talvez seja missão comparada a descrever a beleza de uma noite de lua cheia. Ainda que com muitas palavras, só entende o que aconteceu aquele que esteve ali, e olhou para o céu. “Só quero sua saúde nega, você já cuidou muito de mim quando eu precisei”, lembrava-se da época onde Neném, depois dos episódios passados, como uma verdadeira amiga, o ajudou quando voltou sem nada para a área de outro estado, numa tentativa frustrada de arrumar algum. Aquela marmita era algo maior que alimentar uma fome, que cuidado. Em meio a um ambiente hostil, a dureza não foi capaz de tirar a ternura de ser, da construção e transformação de vínculos. derbyprata.wordpress.com 228