Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 215

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 Suposta despedida Lucas Vilela Belo Horizonte/MG Trato da saudade com uma infinita particularidade. É inequívoco dizer que ela existe e persiste além do tempo. Ainda hoje, de forma solitária, mesmo que distante costumo te observar, sempre que posso e ainda dói mesmo estando a poucos metros de distância. Ainda escuto os mesmos áudios com uma devida constância – posso não assumir, mas, até da sua voz eu sinto saudade e quando o faço, sinto um breve arrepio me percorrer, é o que me traz alivio e paz. O sinto pertinho de mim. Às vezes, quase de forma espontânea, fecho os meus olhos e percorro as mais diversas lembranças possíveis. Algumas lembranças são tomadas de dor e angustia, enquanto outras de amor e alegria. Lembro-me vagamente do seu perfume e ainda sim com profundidade. Lembro-me de deslizar as mãos com eximia suavidade pelo seu cabelo liso, levemente amarelado, escorridos acima dos seus olhos – estes que jamais me esqueço, e muito pelo contrário, a imagem que tenho deles sempre vem à mim com exata perfeição, trazendo-me a sensação de conforto. Costumo tentar sentir o gosto dos teus lábios, de forma que me perco diante de ti ao ver os meus braços em sua volta, te preenchendo com afeto e um misto de sentimentos que eu jamais seria capaz de descrevê-los na sua mais verdadeira exatidão. Confesso, é doído abrir os olhos e me deparar com qualquer coisa que não seja você. Simplesmente não vejo uma forma de me entregar a outra história estando presa a nossa. Vejo as nossas poucas fotos e desejo voltar atrás, talvez houvesse uma outra forma de não o perder, eu sei, faltou maturidade, um pouco de entrega e até mesmo de experiência, mas o que eu poderia fazer?. Hoje seria diferente, eu sei que seria. É eu sei, eu bem sei o que é amar em silêncio. Eu sei bem como é viver a imaginar que poderia ser diferente. Às vezes quando te vejo de longe tento decifrar o teu sorriso e comumente me pergunto se estas a sorrir por pensar em alguém ou se seria somente um momento de descontração – inevitavelmente me pergunto se ainda posso eu ser o motivo dos seus sorrisos – me pergunto se ainda pensas em mim mesmo sabendo e acreditando que não, uma vez em que preferiu partir mesmo sabendo que na minha simples concepção de amor poderia lhe oferecer talvez até muito mais do que você julga ser necessário. 212