Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 182

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 Todos mexem nos celulares. Cada qual em seu mundo. Eu observo cada um,as colegas de trabalho,os rapazes do banco do lado,o casal que trocam juras de amor,os amigos que combinam de sair para “pegar” mulheres. Pegar?? -penso eu ,nos tornamos objetos que se pagam,e larga? O ônibus freia,para em um ponto. Uma família perfeita,entra... O pai perfeito,a mãe perfeita e filha perfeita,pelo jeito não estão acostumados a andar de ônibus mal sabem se equilibrar,o pai senta no banco da frente ao que eu estou,a mãe senta atrás das colegas de trabalho e filha senta-se em seu colo. Ela olha todos que estão no ônibus. O marido não tira os olhos do celular,e dos seios das colegas de trabalho,que marcam seus clientes pelo celular. Mais um ponto,um rapaz negro,com sua filha eles se levantam,ele segura uma boneca e uma mochila com morangos desenhados,eles descem,olho pela janela e ele entrega a mochila para um mulher,abraça e beija a testa da menina,e eles vão embora em um carro. Ele ascende um cigarro. Volto a olhar para dentro do ônibus. São quarenta e cinco,ou menos talvez,todos sentados cada um com seus celulares,olho para o lado um rapaz com fone de ouvido,ao seu lado um mulher lê um livro,grande o suficiente para durar a viagem toda,não consigo ver o nome,mais parece bom ela parece concentrada,ela dá sinal o ônibus para e ela segue sua historia. Lá vai o ônibus com seus passageiros,e seus celulares, cada um tem suas coleiras que te aprisionam. E seguimos viagem ,me lembrei do senhor que queria se sentar com a esposa e agora está lá sentado com ela. As luzes se apagam e os celulares permanecem ligados na escuridão física e iluminando a escuridão dentro de cada um. A família perfeita conversa,o pai permanece com os olhos pregados no celular,não presta a mínima atenção na mãe perfeita e na conversa perfeita. As colegas de trabalho,mexem nos cabelos longos,os homens tiram os olhos dos celulares por um segundo. Mais uma parada,ninguém desceu nem subiu,alguém apertou indevidamente o sinal de parada. A vida segue,o ônibus segue. O senhor que disse que o motorista era lento,agora esta assustado. -Ele corre muito nas curvas – ele comenta. Abaixo a cabeça para ele não perceber que estou rindo. O ônibus para desta vez alguém vai descer. A mão perfeita,ajeita a filha perfeita,chama o pai perfeito,que se assusta e guarda o celular rapidamente,se levanta,mais antes mais uma olhada para os seios das colegas de trabalho.A esposa perfeita cutuca o esposo perfeito. 179