LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
sentiam-se aliviados, ao constatar que estavam no lugar certo, com a pessoa
certa que ditaria o jeito certo de sair do quadro dos “loucos”.
Suas lições não eram inovadoras, eram frases feitas seguidas de relatos pessoais
nos quais utilizara tais ensinamentos e obtivera bons resultados. Apesar de
hábitos já expostos, Thomas tinha uma oratória confrontadora, inibidora que com
a impostação adequada da voz, acoplada à sua invejável postura, não permitia a
intromissão de contra argumentações.
“É verdade!”, “É assim!”, “Que homem!” - dizia-se.
Ao final de suas palestras ele havia dado nova vida aos que ali estavam. O coxo
andava, o cego via o morto ressuscitava. Era adorado, admirado, invejado,
exaltado. Sua fama se espalhou e seu conhecimento enveredou incontáveis
almas perdidas.
Já em casa, em terra firme, reinava o homem “quase comum”. Não era
controlado, paciente. Era impulsivo e iracundo. Nas fases mais simplórias do jogo
da vida real, do lar, Thomas não conseguia passar. Isso lhe condoía a ponto de se
bater, debater-se, agredir-se. A autoflagelação lhe era purificadora, pois não
viver o que pregava lhe causava um remorso descomedido.
Sua esposa e filhos ora ou outra conseguiam inferir falhas através do vazamento
emocional que se rompia com a pressão interior. Por muito tempo foi lhe difícil a
tarefa de fingidor. Até que não aguentou mais e se morreu.
https://www.instagram.com/saritarevisa/
171