Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 172

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 O plano funerário Alexandre Espósito Assis/SP Kevin Covas trabalhava no Cemitério da Paz como coveiro. Numa cidadezinha pacata onde morre gente duas vezes por mês, ele tinha muito tempo livre para pensar na própria morte. Achava a maioria dos funerais feios, e sem brilho algum. Mas acreditava que o dele poderia ser diferente. Anderson havia comprado um ótimo túmulo com o dinheiro que economizara por quase oito anos. Pagava também um plano funerário de categoria platinum, o mais caro possível, com direito a caixão de ébano, terno Armani, coroas de flores, gente chorando coral e cafezinho para os convidados. O valor que pagava era um terço do salário do coitado mais os bicos que fazia como garçom. Pelo menos, se não podia ser um dono de um lar luxuoso e ter grande estilo em vida, iria tê-los na morte. Mas sabia que iria morrer num terrível acidente na casa da tia que nunca trocou a mangueira do botijão de gás? Deveria ter comprado uma urna funerária só por precaução. 169