Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 171

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 O palhaço Rodrigo Duhau Brasília/ DF Seus falsos cabelos eram cacheados e exageradamente coloridos...lilás, amarelo, verde e azul se embaralhavam para forjar uma peruca que escondia os fios pretos básicos e sem graça. A pele do rosto mudara de cor. Agora, a tez morena escura se embranquecera, mas não era palidez e, sim, a maquiagem edificando o personagem. O batom vermelho expandia e engrossava a boca, que tinha seu contorno rabiscado por um lápis preto já gasto. O lápis foi também utilizado para realçar a parte inferior dos olhos, as chamadas linhas d’água, e para desenhar finíssimas sobrancelhas, ocultadas pela tinta branca aplicada na face. Uma densa lágrima figurou no lado direito do seu rosto. A maquiagem fora finalizada. O nariz não fugia à regra. Era de plástico e de um exuberante vermelho. A blusa de mangas compridas era bicolor: vermelha e amarela. Listrada nas mesmas cores, a calça folgada parecia um saco de batatas com largos bolsos. Grandes sapatos rubros e de pontas arredondadas completavam a fantasia. O circo estava apinhado. Sua entrada no picadeiro foi triunfante, e o espetáculo irrompeu, proporcionando suspiros, incredulidades e gargalhadas à plateia. Naquele palácio da alegria, o bobo da corte, melhor dizendo, o palhaço era o verdadeiro rei. Malabaristas, mágicos, contorcionistas e acrobatas se exibiram. Então, a apresentação chegou ao fim. O palhaço retornou ao seu camarim para retirar a maquiagem. Progressivamente, o personagem foi se esvaindo. Restaram-lhe apenas a lágrima e suas angústias da vida real. Deitou-se em sua cama elástica particular. Amanhã o show tem que continuar. www.facebook.com/rodrigoduhau 168