Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 168

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 O ouro reluz e boca conduz Lauchume Rio de Janeiro/RJ Mais uma vez o ministro me bombardeia com uma papelada que tenho d’analisar e entregar, sempre e sempre papeis burocráticos, e os de hoje sobre empréstimos pegos pelo Conde de bancos d’uns burgueses citadinos. Pra que precisa o Conde, homem naturalmente rico, de tanto dinheiro ? Declarar guerra aos alemães ou construir uma ponte sobre o canal da mancha ? Ora, homem louco. Num vejo um empréstimo de dois milhões de escudos para reparos na carruagem e n’outro quinhentos mil para a manutenção das armas d’Estado. Eis um homem prudente, primeiro teme chegar atrasado aos ofícios, e também o poupa d'um assassinato, custando isso dois milhões e meio dos cofres públicos, pagos em... por São Louis IX! “Com prazo máximo em cinco anos com doze porcento de juros por ano”. — Ministro, Ministro! — disse enquanto corria em seu gabinete. — Que foi, homem ? Se recomponha! — respondeu-me rispidamente. — Temos um rombo no Erário, dois milhões e meio, com doze porcento de juros por ano. Vamos dever até a alma aos banqueiros! — disse-o a plenos pulmões. — Te acalma — dizia enquanto lia os papéis — É... o conde deve ter assinado sem ler... de novo... Vá até a cidade e negocie com os banqueiros, são animais egocêntricos ao extremo. Não retorne com mais de cinco porcento! — disse-me quase me enxotando do escritório. “Como um homem de mente tão oca pode ocupar um condado tão cheio, isso é, de dívidas!” pensei enquanto andava nos corredores do luxuoso palácio urbano do Monsieur Philippe, banqueiro dos banqueiros, credor do Imperador, do Papa e quem sabe até do Todo-Poderoso. O barrigudo ancião de cabelos alvos me esperava sentado, com um óculos minúsculo à face e um candelabro que irradiava como um sol particular, os olhos do usurário eram já fundo quem nem de perto os enxergaria, mas até um cego conseguiria ver o tamanho luxo daquela sala que poderia ser chamada de pequeno palácio com facilidade. — Senhorrrrr Frrrrrançois, sente-se porrrrrfavor. — disse-me assim que entrei em sua sala. 165