Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 161

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 porventura bairro com gente sempre tão preocupada com a vida alheia, ou seja, utilizando a expressão mais comum na usual curiosidade das pessoas ou, arriscando um adicional mas pouco ou nada dito no antes, sem grande modéstia na sabedoria de uma expressão nova aqui introduzida, na coscuriosidade delas. Assim mesmo por novidade em substantivo no caracterizar de ocorrência pela frente, de tal modo que não existia vontade de se prestar à situação que o homem do cão no aparente pretendia e, sem demoras embaraçosas, telefone mesmo ali à mão foi ajuda salvadora, pensou-se. Com efeito, bastou levá-lo até junto do ouvido direito para simular conversa de ocasião como se houvesse alguém do outro lado. Por vezes, falando com o próprio eu de personagem até poderá ser interessante dito como «É muito aprazível conversar com o meu heterónimo, o qual aparece nas mais díspares ocasiões como salvador.» Mas o sujeito que observava, esperando satisfazer sua curiosidade ou até expressão antes inventada não saiu dali, aguentando movimento de cão que demonstrava intenção de caminhar para lado diverso. O homem olhava mesmo frontalmente, havendo o deslocar na defesa em forma de telefone para junto da orelha esquerda. Parecia dizer ele coisa qualquer em modo de grunhido feito resmungão, assim suposto numa apreciação nada objectiva. Sair do veículo é que não era hipótese considerada, resistindo na espera perante o debandar do insistente que já fazia no então «Uma situação que desespera!» O tempo ia passando e o diálogo na invenção de interlocutor continuava e assemelhar-se-ia bastante agradável, ou não fosse na companhia de indivíduo em heteronímia identificação. Mas consideração esta já ele, o homem do cão, não poderia saber. Costuma-se pensar e há quem o diga, sem grandes rodeios, que os animais, e aqui os canídeos é que preenchem tal designação, adoptam comportamentos de «Donos da rua», por vezes numerosos na intimidação de quem supostamente lhe for desconhecido. Mas nesse dia aqui descrito até parecia que o dono da rua seria o homem em vez de seu rafeiro, o qual olhando bem para ele, notava-se evidente vontade em ir embora, naturalmente para o conforto do lar. Mas seu chefe tinha opção diferente, não se sabe porque motivo estaria a levar situação ao extremo de minutos somados em horas, talvez sentindo-se mais que dono do 158