Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 158

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 Aconteceu numa bela noite o inevitável. Conheceu Átina, que foi amor à primeira vista, desaguando em paixão arrebatadora. Estudante de arquitetura e trabalhando no segmento de moda, fazia bico em um teatro como assistente de cenógrafo. Tivera poucos namorados; não residia em casa dos pais e dividia um apartamento no Leblon com uma famosa travesti, figura bastante conhecida no meio artístico. Conheçamos então sua história. Átina nasceu Aldomiro e ainda em tenra idade recebeu dos pais o apelido carinhoso de Miro, podendo variar em certas ocasiões para Aldon. Ali a sociedade gestava um engenheiro civil, um militar de alta patente, um galã de novela ou um bem-sucedido jogador de futebol, tudo a depender de suas habilidades e escolhas pessoais, com incondicional apoio da família. O destino, porém, lhe designava outro caminho. Logo nos primeiros anos de vida viu-se atraído pelas roupas, leituras, brincadeiras e afetações de suas irmãs, e aos 15 anos decidiu assumir em definitivo sua transexualidade. Deliberou por deixar crescerem os cabelos, que se tornaram longos, brilhantes, sedosos e cheios de viço; tomou hormônios femininos às escondidas e com a cumplicidade de um primo gay; pintou unhas e lábios, pôs em destaque os seios volumosos, as pernas torneadas, nádegas bem definidas, ao tempo em que lhe sumiram os pêlos. Enfim era uma mulher perfeita, completa em exuberância e sensualidade. Nem precisa dizer o que aconteceu em seguida na célula familiar. A mãe teve um ataque de nervos e o pai ameaçou deserdá-lo, o que mais tarde foi confirmado diante do fato consumado, mas a mudança era irreversível. Poucas não foram as tentativas e investidas dos pais no sentido de reverter o quadro, mas sem sucesso, ouvindo apenas dos especialistas explicações das mais variadas que, apesar de sua comprovada cientificidade, não resultaram convincentes. Em primeiro lugar recorreram à teologia, ouvindo de um ex-padre, casado, professor e brilhante em suas palestras, a explicação de que a resposta estava na Bíblia, livro do Gênesis, capítulo 1 versículos 27 e 28, onde está explícito que no sexto dia o senhor dos céus e da terra criou o homem à sua imagem e semelhança, mas o texto aclareia mais o milagre da criação quando diz taxativamente que "homem e mulher os criou". A coisa só tomaria uma nova definição a partir do capítulo 2 verso 21, quando o Todo Poderoso deferindo uma petição de Adão, separou os sexos, criando a mulher em separado mas sem dissociá-la em sua essência, visto que advinda de uma costela ali não se fizera nada de novo. A duplicidade de sexos estaria, segundo o professor, no princípio da criação dos seres humanos. Primeiro gol contra do futuro atleta. 155