LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
Não ser
Canindé
Sorocaba/SP
Com os pés atarracados nuns chinelos
de couro velho
ele, que vê as luzes da cidade como estrelas
renegadas,
da sua janela pequena aos sonhos,
deita os olhos num livro procurando a si,
um personagem que lhe sirva de espelho
em tolas frustrações.
Arrasado por sempre encontrar
nas histórias penduradas no varal
do tempo
senta-se na sua cadeira quebrada
escreve um lindo texto
para atirá-lo ao
chão
e alimentar a vaidade
de ser um grande escritor
para os vermes sob os seus pés.
Completo,
acende e traga um cigarro
do último vintém
e solta no ar
as últimas palavras imorais
mortas nos pulmões...
Seu heterônimo das sextas-feiras.
139