LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
Não tinha nem muito que pensar, eu nunca tinha visto uma espingarda, um
revólver, só nos filmes de guerras no cinema, morria de medo daquilo. No fundo
o que eu mais desejava mesmo, era não cair na mesmice.
Como assim? Os anos sessenta, setenta, oitenta, noventa, foram me ensinando a
ser uma “menina” com os olhos marejados pelas lambidas perdidas.
Eu sei que nem sabia meu lugar. Consegui umas vindas e resistindo ao século 21
o mais doloroso e ao mesmo tempo divertido, permitindo- me a algumas
interrogações. De perguntas em perguntas tive que lambuzar respostas. Por
quanto tempo ofuscando, por quantas noites mal digeridas, por tantos e tantos
sorrisos falsos. Ela procurava nas entrelinhas o eu que já não existia. Pensando
que é fácil suportar do lambe- lambe aos panos em planos ocultos e difusos?
De repente resolveu renomear os escritos cuspidos em desafios. Até decidir se
despir fantasmas da memória. Sim, contou outra história.
A cidade amanhecia correndo, as pessoas caminhando com cachorros, o pronto-
socorro lotado, eventos publicados na internet, um bando de gente online. E
agora? Dar alma ao capeta ou enfrentar tanta merda? Bom, podia não ser tão
difícil uma lambida por vez. Por vezes tentou chamar a avó, por vezes cansou de
ser só, só mais uma embaraçada. As notícias, os rumores, os horrores, os aflitos,
ovos fritos no café da manha, preto puro, amargurado com tanta incompreensão.
Coração movido à bateria, carregador de celular destemendo sua relevância.
O mundo pedia sossego. Ela pedia um nome. Gostava de olhar paisagens. Não
desenhava um rabisco sequer. Mas a vida pedia passagem. Deixa a passagem
chamar Valentina? Valentina sendo escrita extravasando lambidas na libido, nas
estimas, estigmas, catarse, cartazes espalhados. Incontroláveis desejos
invisíveis. Valentina tornou- se dona de um memorial vivo, vivacidade em não
controlar os instintos, Teve um chefe que trancou a porta da chefia e queria um
beijo de língua. Valentina fechou a boca correu e abriu a porta, fez o poder
entender o devido lugar.
Nunca largar macho foi tão gostoso nesse episódio miserável antes dos anos dois
mil.
Mas se quisesse contar sobre isso poderia. Preferiu o silêncio comendo respostas.
Na noite fria sugando a língua pela primeira vez.
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