LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
estava por vir e foi solenemente anunciada: para serem definitivamente aceitos
no bando, eles deveriam fazer mais que imitar cães: tinham que agir e pensar
como cães. O grande teste a eles imposto foi o de se voltar contra os próprios
pares e, feito cães, caçar, ferir e matar outros gatos.
O susto com a notícia foi grande. Não foi fácil renegar a própria raça, mas
eles já tinham ido muito longe pra desistir de tudo. Já que chegaram até ali,
resolveram seguir em frente.
No começo, doeu um pouco neles, mas doeu muito mais na carne de suas
vítimas: pobres gatos e gatas caçados, feridos e mortos. Os bravos gatos
estavam definitivamente aprovados. Entraram para a matilha.
O tempo passou e os gatos-cães se multiplicaram e se tornaram maioria no
bando. Aliás, passaram a dar as ordens. Já nem pareciam gatos. No comando,
viram os cães se extinguirem. Para a alegria dos felinos, pensavam alguns,
cansados de caçadas, ferimentos e mortes.
Mas não foi bem isso que aconteceu. Com o fim dos cachorros, os gatos-cães
continuaram a caçar, ferir e matar gatos. Já não eram mais gatos que agiam feito
cães. Agora, eles eram cães.
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