Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 103

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 — Se o homem não pisou na Lua então essa história do Chico Xavier, o maior médium de todos os tempos é uma mentira? — É sim. Pura mentira. — O casado fala com uma voz bêbada e amargurada. — Então não vai acontecer nada em 2019? Nenhuma mudança drástica? — É sempre a mesma coisa. O que aconteceu em 20/12/2012 às 20h12min? Nada! — Então o mundo nunca vai acabar? A gente vai continuar assim? Os dois dividem a conta. Na despedida dão um abraço rápido. O casado vê a mensagem de desespero da mulher e entra no carro com a sensação de que foi a última vez que conversou com o único amigo que teve na vida. Idealiza um carro ir de encontro no cruzamento e o amigo morre igual ao verdadeiro Paul McCartney nos anos sessenta. O sósia entra nos Beatles a contragosto de John Lennon. O substituto fica tão poderoso que no ano de 1980 contrata Mark Chapman para matá-lo e enterrar toda a verdade. Agora tudo faz sentido. Sentado em seu carro sem conseguir colocar a chave no contato as peças do quebra-cabeças estão todas encaixadas. Ele, sujeito tão reprimido, chora que nem bebê. Chora muito parado naquela rua mal iluminada. Queria agradecer ao amigo pela conversa mais esclarecedora que tivera nesses muitos anos perdidos. Queria sair do carro e gritar para ele não morrer por que precisava estar vivo até julho de 2019 e ver um novo mundo surgir com os escolhidos. Estariam caminhando por entre leões e árvores frondosas igual à sociedade brega e perfeita nas imagens da revista Despertai. Mas ele está paralisado. O que impede de sair do carro é a obrigação de acordar cedo para tomar a vacina contra a febre amarela. Ele tinha dado seu nome, portanto não poderia decepcionar ninguém. Acima de tudo era um homem controlado pelo sistema. 100