LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
Black Dog
Carlos Henrique Barth
Macaé/RJ
Ela chega quando menos se espera. Às vezes há um gatilho que a aciona.
Outras vezes, não. Aparentemente, está tudo tranquilo em sua vida. Você está
empregado, as crianças com saúde e o casamento vai bem. Mesmo assim, aquele
pesar se instala em seu coração e parece que nada mais faz sentido. É um pesar
desproporcional e você tem consciência disso. No entanto, isso não torna as
coisas mais fáceis.
Aquele sentimento ruim vai drenando suas forças, te sufocando. Andrew
Solomon no livro “O demônio do meio dia” compara a depressão a uma
trepadeira que impede o crescimento da árvore sadia, sorvendo sua seiva, a
matando. A metáfora é perfeita, pois é isso que ela é: um parasita que vai
sugando a energia vital do hospedeiro.
Não há mais certezas ou convicções. Só dúvidas. Não é o momento de
tomar nenhuma decisão importante pois você sabe que seu julgamento está
comprometido, que a química do seu cérebro virou uma bagunça. O momento
pede somente resiliência. Mesmo assim a mente fica inquieta, indócil. Tudo se
torna negativo e você só vê o lado ruim das coisas. Não tem ânimo para nada,
fica remoendo o passado, projetando o futuro. É o inferno.
Falo da depressão leve, que é o que sinto. Não sei se teria forças para
suportar a crônica. Winston Churchill se referia à suas recorrentes crises
depressivas como um cão negro (Black Dog) à espreita. Seu conselho para lidar
com a doença era uma demonstração de coragem: “Se você está atravessando o
inferno, continue andando.”
Para mim o aspecto mais cruel dessa enfermidade é que se trata de uma
doença solitária. Só quem a carrega pode entendê-la. Além disso, na era da
felicidade compulsória seu portador é muitas vezes estigmatizado como um
fracassado. Porém, tenho uma visão bem diferente sobre o depressivo. Em minha
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