LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
desenhista, mas, principalmente, casada, com três filhos e um cachorro da cor
creme. Seu marido seria lindo, teria uma Ferrari e uma mansão na França.
Conforme os anos foram passando, percebera que não tinha o corpo de
uma princesa, a altura de uma princesa, o cabelo de uma princesa, nem a cor de
uma princesa. Escondia-se do mundo com um capuz, todavia, apesar do pega-
pega com o espelho, não conseguia se esconder.
Depois do cansaço ter vencido a degradação, resolveu sorrir.
Sorriu porque um dia sentou com a genética em uma mesa de bar. Entre
um copo de cerveja e outro, a genética silabava que renegar a beleza dada, é ter
vergonha da origem. Amava tanto a origem que não via mais sentido em não se
amar. E, depois de muita leitura e tropeços, percebeu que o grande objetivo da
maioria dos filmes e meios similares é a infelicidade das pessoas.
Se um indivíduo é feliz, não precisa ser etiquetado ou curar sentimentos
de forma paliativa por meio de compras desnecessárias.
Nossa economia precisa girar e a infelicidade é a grande moeda do sistema.
Decidiu que a própria infelicidade não seria fonte de lucro, em um protesto
silencioso, resolveu ser feliz.
Entretanto, ainda procurava um príncipe.
Nas andanças, escolheu o futuro rei da monarquia. Um príncipe com All
Star preto: alto, moreno, forte e com um sorriso, um sorriso… No começo,
promessas, odes, sonhos e desejos. Contudo, com o tempo, o príncipe começou
a se importar com a classe social dela, a achar que era burra demais para
estudar no mesmo lugar que ele, passava dias sem ligar e além de roubar o
coração da moça, no meio do caminho, o príncipe resolver levar também o seu
dinheiro e dignidade. Mas, na cabeça dela, ele era o príncipe, se o encantador
rapaz não tivesse bradado que queria romper por estar gorda e não ter os
parafusos no lugar, talvez, até hoje, acharia que ele era o príncipe.
72