LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
Cenas de Black Mirror
Pietro Costa
Brasília/DF
Crianças brincando no parque
Jovens guiando suas bikes
Casais se amando,
De várias idades
Circunda um ar suave,
De amizade
Diversão para todos,
Em igualdade
Pneus queimando o asfalto
Onde antes havia um gramado
Sobrou o calor disgramado
É a morte nos desmatando
É a Terra chorando largado
Nas mazelas de seus filhos ingratos
Nesse lugar imaginário
Moram a ternura e a esperança
Mas na selva da realidade
O medo é de concreto
Territórios governados pelo ego
Nações quebrantadas pela ganância
belicista
Tão infame e tão fatídica
Angústia que não tem fronteiras
A relva respingando suor e poeira
No derrame de vidas líquidas Nesse deserto dos amores
Nesse parque de intrigas
Crianças se altercam por litígios
abjetos
Fazem troças e trocas com os próprios
dejetos
Num carrossel de inocências perdidas
Levando a rotas bandidas
Trens fantasmas arrastam ódios cegos
Tudo parece hostil ao afeto
Nas anomalias onde o errado
transparece certo
O ópio atua como remédio
Vizinhanças sem jardins
Bairros sitiados por muros altos
Cercas elétricas e cães bravos
O único verde é o dindim Fotografias sem rosto
Indivíduos anônimos
Ruas sem endereço
Becos com saída
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