Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 61

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 Cartão de memórias Ronaldo Dória Jr. Rio de Janeiro/RJ Acordei disposto a estudar. Normalmente protelo o máximo que posso. Preparo, organizo, enrolo e, no fim das contas, acabo não estudando nada. Mas hoje acordei disposto. Levantei cedo, tomei café, antes das nove eu já estava pronto. Espetei o cabo do telefone no computador e copiei as videoaulas. É mais prático quando as aulas estão no celular. Desconectei o cabo e então vi uma mensagem dizendo que havia uma falha na leitura do cartão de memória. Desligo o telefone, ligo novamente. Nada. Minhas fotos, vídeos, músicas, tudo havia desaparecido. Provavelmente porque eu não havia removido o dispositivo com segurança. Inicialmente fiquei tranquilo. Eu havia, meses atrás, baixado um aplicativo que fazia automaticamente o backup dos meus arquivos. As músicas estavam perdidas, mas sempre se podia baixar tudo de novo. Paciência. Estudar com os vídeos no celular era mais fácil, mas ainda havia o PC. Tudo se ajeita. Foi quando me lembrei dos áudios dos meus dois sobrinhos. O aplicativo somente salvava fotos e vídeos. Os áudios dos meus garotos desapareceram. Senti uma pontada de tristeza no peito e perdi todo o pouco ânimo que havia reunido para estudar. Pesquisei na internet meios para tentar recuperar o conteúdo do cartão. Tudo muito difícil, complicado. Eu deveria estar feliz porque as centenas de fotos e os vídeos estavam seguros, mas não estou. Fiquei aborrecido comigo mesmo por me entristecer por tão pouco. Afinal, são apenas gravações que fiz dos meninos brincando, cantando, dizendo as bobeiras que eu pedia que eles dissessem. 58