Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 206

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 passado num país tão exuberante e misterioso onde nasceu. Na cozinha arrumou as suas coisas e olhou o seu quintal pela janela panorâmica. Ali dentro estava demasiado silencioso, antes que a solidão se revelasse sua inimiga encheu a casa com música, sons suaves de violoncelo e piano tornavam-se como ondas frescas do mar, naquele momento a ardência do exterior fora esquecida. Antes de chegar à casa de banho despira o macacão molhado, este caiu-lhe pelo corpo até ao chão, arrepiando-a. Completamente despida passeou pela casa à procura do quarto. A cama ainda estava por fazer, a janela aberta deixava o sol invadir com atrevimento o seu refúgio. Mais valia fechar a janela, estava mais quente no exterior. De seguida abriu o armário espelhado, sem contemplar o quanto era magra, de feições delicadas como uma flor de cerejeira que pintava os céus e as ruas deixando um rasto inesquecível da sua graciosidade e beleza. Não era muito alta, os ombros magros com as clavículas salientes preparavam o deslumbre dos seios simétricos, pequenos de onde se destacava os rosados mamilos, a barriga lisa desenhava suaves traços de musculação definida pelas horas de exercício que fazia diariamente, as coxas finas e tão desejáveis enriqueciam a aparência jovial das pernas e os pés arqueados sempre ligados ao mundo terreno. O pescoço alto e fino como o de uma garça a escutar o riacho despreocupado florescia para um rosto oval, de olhos amendoados decorados pelas claras sobrancelhas, nariz pequeno como um floco de neve tinha suaves sardas e os seus lábios carnudos sempre pintados lembravam os morangos frescos e apetitosos da exuberante primavera. O tom do mel dos seus olhos encararam as roupas do seu marido e instintivamente procurou abraçá-lo por entre as peças penduradas em cabides. Fora o primeiro homem que alguma vez amou, que doloroso era esse sentimento. Perto dele a vida era mais colorida, mas longe era como uma criança à procura do colo e da segurança durante a tempestade. Amar um piloto era como uma prisão numa gaiola apesar de ele voar como uma andorinha migratória nenhum dos dois tinha liberdade, estavam presos aos laços de um sentimento maior que a vida. Imaginava o seu amor como um eclipse, de três em três meses o sol e a lua juntavam-se e amavam-se para depois se separarem de novo com o universo 203