LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
Solitário
Lusandro Oliveira Leite
Santa Inês/PB
As crianças brincam na minha rua – à alegria é um teste de aptidão absoluta.
A realidade é segura e a dúvida parece não existir. Os adultos fazem ócios.
Loucos vivem em bando. Um terremoto de ilusões...
Felizes? Jamais! Apenas engano. Falhos, imprecisos, descrentes, crentes,
políticos e não políticos, amam o amor e amam o ódio – um verdadeiro
pessimismo filosófico. E eu que moro na terra de nome Santo. Vou negar todas
as vulgaridades?
Eu, tão solitário preso na engrenagem das multidões, sem capital, saúde,
teto, direito. E o direito que tenho não é dito direito em linha reta e perfeita. Com
as mãos vazias metidas na obscuridade das misérias, minhas calças rasgadas,
meu chapéu de couro não possui mais couro, meus chinelos acabados, minha
carne seca e dolorida e meu estômago absurdamente vazio. Com as lágrimas
lavo o rosto e não consigo descansar durante a noite. Já em outro dia acordo
sem esperança e tudo se repete novamente. E minha memória é triste e minha
Santa Inês sufocava em lama seus moradores abandonados... eu continuo
perdidamente solitário...
197