LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
A casa estava limpa, já havia feito a cata nos armários, não queria ler nem
ver TV. Também não queria sair. Vai que me desse uma vontade súbita de
comprar algo de que não precisava. Nada de gastar. Foi quando resolvi matutar e
pensar nas coisas que eu sabia fazer. Aprendi confeccionar uns tapetes peludos
com uma tia, havia muitos anos. Eram tapetes bacanas, costurados na máquina.
Deixei essa ideia ir amadurecendo e certa esperança alegre me invadiu e eu
sorri, o que não fazia há tempos.
Comprei uma máquina de costura com o dinheiro da rescisão e comecei a
costurar tapete e mais tapete. Mal parava para comer e ir ao banheiro. Sou
compulsiva com certas coisas que começo a fazer e faço sem parar até enjoar.
Por exemplo, uma vez comecei a fazer sapatos de lã e não parava nunca mais.
Doei setenta pares para uma casa de repouso.
Como venderia os tapetes? Sempre fui péssima vendedora. E vender em
feira de artesanato não daria certo. Sempre que ia a uma dessas feiras, ficava
com pena dos artesãos-vendedores, sempre com olhos de esperança que seus
produtos fossem comprados e, com as pessoas apenas passando e não
comprando nada, viravam olhos tristes. Era capaz de eu ficar com olhos tristes o
tempo todo e espantar possíveis fregueses.
Costurei dezenas de tapetes e parei só quando não havia mais espaço para
colocar um sequer. Com essa pausa, pensei que poderia vender pela internet,
fazendo uma boa estratégia de marketing.
Daquele dia em que acordei terrivelmente pesarosa até hoje se passaram
dez anos. A frase que ouvi na época “Você está despedida!” e que, no momento,
pareceu-me a mais terrível e portadora de um futuro terrível e sombrio, foi a
melhor fala que alguém podia dirigir a mim em todos os tempos. Hoje sou
empresária de tapetes peludos e eles são vendidos em vários países da América
Latina. Não costuro mais e tenho vários funcionários para cuidar da confecção e
de outras áreas da empresa. A empresa vai muito bem e nunca mais ouvirei
“Você está despedida!”. Aliás, essa frase nunca foi dita por mim a nenhum
funcionário. Nunca foi necessário e até hoje só saiu quem quis.
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