LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
Ode À Natureza
Waldir Capucci
Jacareí/SP
Criar a nova coreografia do grupo atormentava Gisele, e a necessidade de
cumprir a tarefa acabava por atrapalhar todas as outras atividades de seu dia a
dia. Com outros afazeres simultâneos, impossível ordenar os pensamentos para
se dedicar ao objetivo, e não dispunha de tempo suficiente para dar conta de
todos.
Andava muito amarga ultimamente e percebia que as pessoas até a
evitavam, tão visível era seu estresse. Para piorar, seu reconhecido e premiado
talento parecia ser coisa do passado. Por mais que tentasse havia uma barreira
na mente que travava sua inventividade. Decidiu que naquele preciso dia seria
dado o início da nova empreitada e se organizou para ficar focada no que tinha
planejado.
O silêncio do campo certamente lhe traria a inspiração que estava precisando
encontrar. Ela havia se escondido em algum lugar e seu objetivo era buscar
naquela paz natural a danada que tinha fugido de sua mente. Nada melhor que o
contato com a natureza para acalmar o espírito e, certamente, o silêncio quase
sepulcral, passível de ser quebrado apenas pelo canto mavioso das aves ou o
sopro suave do vento abanando as folhas das árvores ou a ramagem fina das
plantas ao redor, seria a companhia perfeita para traçar os primeiros rabiscos do
novo trabalho.
Deu tudo errado, a própria natureza lhe sabotou os planos quando ainda
estava se preparando para a peregrinação campestre. Um violento temporal
deixou-a retida no prédio da produtora, não lhe restando outra opção senão
aguardar o término do dilúvio. No entanto, pessoa por demais desassossegada
que era, seria impossível não se amargurar com aquele cárcere forçado em um
momento que tinha muita coisa para pensar e fazer.
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