Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 170

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 Ode À Natureza Waldir Capucci Jacareí/SP Criar a nova coreografia do grupo atormentava Gisele, e a necessidade de cumprir a tarefa acabava por atrapalhar todas as outras atividades de seu dia a dia. Com outros afazeres simultâneos, impossível ordenar os pensamentos para se dedicar ao objetivo, e não dispunha de tempo suficiente para dar conta de todos. Andava muito amarga ultimamente e percebia que as pessoas até a evitavam, tão visível era seu estresse. Para piorar, seu reconhecido e premiado talento parecia ser coisa do passado. Por mais que tentasse havia uma barreira na mente que travava sua inventividade. Decidiu que naquele preciso dia seria dado o início da nova empreitada e se organizou para ficar focada no que tinha planejado. O silêncio do campo certamente lhe traria a inspiração que estava precisando encontrar. Ela havia se escondido em algum lugar e seu objetivo era buscar naquela paz natural a danada que tinha fugido de sua mente. Nada melhor que o contato com a natureza para acalmar o espírito e, certamente, o silêncio quase sepulcral, passível de ser quebrado apenas pelo canto mavioso das aves ou o sopro suave do vento abanando as folhas das árvores ou a ramagem fina das plantas ao redor, seria a companhia perfeita para traçar os primeiros rabiscos do novo trabalho. Deu tudo errado, a própria natureza lhe sabotou os planos quando ainda estava se preparando para a peregrinação campestre. Um violento temporal deixou-a retida no prédio da produtora, não lhe restando outra opção senão aguardar o término do dilúvio. No entanto, pessoa por demais desassossegada que era, seria impossível não se amargurar com aquele cárcere forçado em um momento que tinha muita coisa para pensar e fazer. 167