LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
alguma experiência com espécimes bovinos… Senhora de muita experiência, deu-
se relativamente bem com o Minotauro, em quem encontrava semelhanças com o
seu esposo quando jovem. Louvando o liberalismo e a legitimidade do poder do
mais forte, com modos sedutores, conseguiu afagar o ego de macho alfa do
Minotauro, e assim obter dele algumas graças ― uma delas, experimentar
carnalmente a pujança taurina, vivência que invejara a Europa.
A partir daí, as negociações foram mais fáceis, mas sempre numa ótica
economicista. Hera voltou com um contrato específico que, a ser aprovado pelo
Concílio dos Deuses, iria atenuar por alguns anos as penas da dívida de Hélade e,
com esperança inconfessada, trazer alguma animação ao Olimpo, para irritação
provável da maioria dos seus esquivos companheiros divinos. Tratava-se da
privatização do Monte Olimpo, onde se previa a instalação de um imenso parque
temático, aberto todo o ano, cujas receitas de bilheteira e de todo o
merchandising associado à mitologia autóctone seriam naturalmente controladas
pelo Minotauro.
― Amorzinho, de certeza que o Concílio não vai aceitar de bom grado os
pontos do contrato que obrigam os deuses a estar sempre visíveis e a interagir
com os visitantes humanos... ― advertira Hera, genuinamente apreensiva.
― Eles que pensem bem! ― resfolegara o implacável touro mutante. ―
Senão, mando instalar uma mitologia de deus único.
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