Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 157

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 cuidado, porque seus dentes eram pretos e doíam a todo momento. Engolia, mastigava, forrava a barriga com um pão quentinho e caseiro. Aos poucos percebe os pássaros se aproximarem. Eram dois no primeiro momento, depois mais quatro e quando se deu conta vários pássaros já aguardavam por migalhas caídas no chão. O homem, o morador de rua, percebeu que tinha companhia. Decidiu ser generoso. Ofereceu pedaços de seu pão, do único pão que tinha restado, para os pássaros que o rodeavam com alegria. Vários se alimentavam de poucas migalhas e muitos outros com pedaços mais generosos de pão quentinho. Aquele morador de rua não tinha diploma para pendurar em um quadro de uma sala de escritório em um prédio muito alto. Não tinha o relógio de pulso caro que agonizava as horas que avançavam sem dó todos os dias. Ele não tinha roupas justas, sem rasgos e suas unhas continuaram sujas e necessitadas de uma limpeza. Apesar disso, de não ser como aqueles homens com ternos chiques e importantes para muitas pessoas, ele era importante para aqueles pássaros que se alimentavam de seu pão. Um morador de rua poderia ensinar muito mais sobre generosidade e humildade do que milhares de homens ricos que todos os dias usam gravata e trancam seus carros com medo de ser roubado por outros moradores de rua. Um morador de rua era muito mais a representação do sentimento da gentileza e compaixão do que milhares de homens engravatados sem rumo à empatia. https://palavrasdeverona.wordpress.com/ 154