LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
cuidado, porque seus dentes eram pretos e doíam a todo momento. Engolia,
mastigava, forrava a barriga com um pão quentinho e caseiro. Aos poucos
percebe os pássaros se aproximarem. Eram dois no primeiro momento, depois
mais quatro e quando se deu conta vários pássaros já aguardavam por migalhas
caídas no chão.
O homem, o morador de rua, percebeu que tinha companhia. Decidiu ser
generoso. Ofereceu pedaços de seu pão, do único pão que tinha restado, para os
pássaros que o rodeavam com alegria. Vários se alimentavam de poucas
migalhas e muitos outros com pedaços mais generosos de pão quentinho. Aquele
morador de rua não tinha diploma para pendurar em um quadro de uma sala de
escritório em um prédio muito alto.
Não tinha o relógio de pulso caro que agonizava as horas que avançavam
sem dó todos os dias. Ele não tinha roupas justas, sem rasgos e suas unhas
continuaram sujas e necessitadas de uma limpeza. Apesar disso, de não ser
como aqueles homens com ternos chiques e importantes para muitas pessoas,
ele era importante para aqueles pássaros que se alimentavam de seu pão. Um
morador de rua poderia ensinar muito mais sobre generosidade e humildade do
que milhares de homens ricos que todos os dias usam gravata e trancam seus
carros com medo de ser roubado por outros moradores de rua.
Um morador de rua era muito mais a representação do sentimento da
gentileza e compaixão do que milhares de homens engravatados sem rumo à
empatia.
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