Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 14

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 A Bênção de São Melécio, Patriarca de Antioquia Nuno Marques Pereira Guaratinguetá/SP “Basta somente eu dizer que ‘o ódio apenas pode vir a nascer dentre aqueles que se conceituam dissímeis’ para que possa se realizar uma imitação de Balzac; e, após fazê-lo, hei de poder escrever uma nova Madame Bovary para contigo.” (Davi Mendonça Cardoso) Há uma montanha ao leste de França onde dizem ter andado São Melécio de Antioquia, e dizem alguns sábios que São Melécio, após fazê-lo, teria lançado à montanha uma bênção para se realizar alguns anos depois. O tempo passou, até que a montanha se tornou um cemitério onde veio a ser enterrado um dos homens mais notáveis que já existiram na face da Terra: o padre Barcelos. Após o seu perecimento, padre Barcelos passou a morar ali, um ermo cemitério da cidade de ***, cujo nome eu não quero recordar. Ele possuía um diário feito de ossos, onde anotava os segredos do cemitério na língua arcaica dos fantasmas com o fim de que ninguém compreendesse o que nele encontrava- se escrito – porquanto havia um grande infortúnio (que quem possui diário consegue apreender distintamente): o diário não era trancado. Certo dia, quando Barcelos participou de um concurso que ocorreu no cemitério à madrugada de uma sexta-feira 13 – dia considerado de azar por nele ter sido crucificado Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, filho de Davi –, conseguiu enfim ganhar uma chave para o seu diário! Tal ocorrência tornou-se febre no cemitério, pois outros fantasmas que ali moravam sempre apreciavam dar uma espiada em seu diário, mesmo sem entender coisa alguma. Uma vez, quando padre Barcelos regressou de um passeio que deu pelo cemitério logo após ouvir o canto do galo, viu que a chave desaparecera. “Onde foi que eu deixei o diabo dessa chave?”, perguntava o fantasma para si mesmo. “Eu a havia deixado sobre o túmulo no qual durmo durante o dia, e fui passear pelo cemitério. Quando volto, a chave desaparece! Que desventura a minha!”, e continuava a murmurar acerca do azar. 11