LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019
Meros Jardins
Charles Burck
Rio de Janeiro/RJ
Vêm pela beirinha do caminho como quem não está perdido
Professe que segue certo, mas apague os passos para que ninguém te siga
Depois vire a esquina, onde há um mar, logo ao longo da curva, descendo o
altiplano verás
Como olhos de cacheira a derramar nossos prantos
A moça morena de cabelos derramados de uma ponta a outra da praia
Que alguns dizem, prostituta, mas é uma mágica sereia perdida no desejo dos
homens
Que alguns dizem rosa banal, num mero jardim
Mas o primeiro que tocar a verdade há de morrer pelas mãos dos outros
Rime o primeiro com o segundo e diga que há só um mundo para viver,
Mas os olhos de jabuticabas apodrecem sem serem colhidos,
A parte roxa da iris gerou um filho de miolo mole
O sabiá comeu primeiro, em segundo plano o bem ti vi bicou, e a mentira que se
espalhou pelo mundo
Um sapo de olhos de ouro come as palavras soletradas, uma a uma,
O ventre cheio de vocábulos misturados arrotou poemas,
A santidade que deveria ser prospera no sagrado, se curvou à escuridão,
Ao nasceram depois as estrelas, mas os sapos as comeram, todas
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