Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 12

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 "A Droga" e a Chuva Evandro Ferreira, IWA Caucaia/CE Confesso que bateu saudade. Lembrei-me da minha infância e passou um filme em minha cabeça, hoje. Não tinha contas para me preocupar e nem pagar. Os estudos eram o grande vilão do tempo. Eu me encontrava com ele na escola e antes de dormir, ficávamos “namorando”. Eu, o caderno e os livros. Antes era momento de ser criança... jogar futebol na rua com duas sandálias em cada lado, marcando "as traves", o chão era batido na rua cheia de poeiras e buracos...era divertido, principalmente quando chutávamos a bola no portão de ferro do vizinho e fazia aquele estrondo. Quando a bola caía dentro do quintal dele, era “batata”. Ficávamos tristes, pois ele tinha um facão e cortava nossa bola "artilheiro ou atleta". Tudo era tão difícil e acabava o futebol. Bom, tínhamos a brincadeira da bandeirinha, pique, queimado (que se chama "carimbo” aqui no Ceará) e tantas outras coisas que nos faziam bem. Não tinha celular, conversa pelo zap ou facebook. O contato era direto e a hora de brincar, todos já sabiam. Brigávamos, saímos no tapa por bobeiras, mas depois tudo era resolvido. As mães que ficavam mal entre si. Dependíamos dos colegas para completar o futebol e outras brincadeiras. Não tinha maldade. E quando chovia? Xiiiiiii! Era uma loucura, mas nos sujávamos de lama e ainda sujávamos os outros. Pobres mamães que lavavam nossas roupas em tanque de pedra. Como fomos ingratos sem malícia. Inocência! A festa na rua se dava quando os malditos políticos prometiam asfaltar a mesma. A "droga" vinha e todos iam vê-la. Era ela passar na rua e vir chuva. A desculpa para não asfaltar era sempre a mesma: a chuva! As pedras apareciam, buracos e nosso futebol, ficava ainda mais animado num chão mais plano. Inocência que acreditava nesse asfalto. Passavam 20 dias, 30 dias e lá se vinha a droga da "droga" e nossos ânimos aumentavam novamente. O céu se escurecia de nuvens carregadas e cinzentas. Era sinal de muita chuva e mais lama. Os nossos pais tinham que ir e 9