Revista LiteraLivre 15ª edição | Page 104

LiteraLivre Vl. 3 - nº 15 – Mai./Jun. de 2019 Folha em branco Marione Cristina Richter Venâncio Aires/RS A porta do quarto está trancada, está tudo no silêncio, o computador desligado, sempre me dá um branco na frente dele. Em minha frente um caderno usado com folhas em branco, por quê não? A caneta esferográfica de tinta preta na mão, sempre gostei mais da preta, e a vontade de escrever. O que será hoje, um novo conto? Um poema quem sabe? Não, sem inspiração. Talvez continuar com meu projeto de escrever um livro. Neste momento eles aparecem e começam a querer forçar a maçaneta da porta, a arranham, querem minha atenção. Não sei mais o que fazer, tenho que aprender a me organizar para dar atenção a todos ou vão me deixar louca uma hora dessas. Já tentei escrever fora de casa mas também não deu certo pois na volta acabo trazendo mais um. Dar para adoção? Em hipótese alguma, são meus, eu os criei, só eu sei da vida deles. E se não lhes derem o destino correto, o destino que eu pré-tracei? Não, absolutamente não, são minha responsabilidade, eu devo isso a eles. Mas quando? Quando conseguir me concentrar. As vezes consigo escutá-los por trás de todas as barreiras que tento erguer para conseguir escrever. Escuto seus questionamentos, suas lamúrias e expectativas: - “Quando vai falar de mim”? - “Eu vou morrer”? - “É só isso? Não tem continuação”? - “Ficou legal! Escreve outra pra mim”. Ah! Meus personagens, como me atormentam. Não consigo dar um caminho a eles, e como me cobram, mas como vou fazê-lo se não ficam quietos. Minha mente está a mil e a minha mão parada sobre a folha em branco e a caneta preta na mão. 101