LiteraLivre Vl. 2 - nº 12 – Nov./Dez. de 2018
O Tipo
Luís Amorim
Oeiras, Portugal
Encontrava-se o tipo ainda com uma grande distância, pensámos nós sem
demasiada preocupação quando afinal e, com erro crasso para espanto nosso,
apresentou-se ele próprio bem mais cedo. Aliás, prontamente no dito imediato
«Agora» que vigorava no então, o que não deu tempo a procurarmos assentos
outros com a necessária antecipação. Mas também era dever nosso ficar ali
mesmo por causa dele, o qual de facto, chegou e sentou-se sem pedir licença na
vizinha mesa, sendo desde logo chamado a cada frase dita para que, na
suposição nossa, se pronunciasse nome seu. Por vezes, até com bis na mesma
frase o que nos levou a considerar que estaria ele cada vez mais na moda, daí ter
chegado no anotado cedo temporal a mais, do que o antes feito em previsão. A
realidade abanava tudo ali mesmo ao lado e era ver como alegremente o tipo no
constantemente solicitado adornava cada proferida frase. Também o nível de
conversa das novas companheiras do tipo não era do mais elaborado que se
possa supor. Talvez o tipo ali estivesse para as formar ou algo similar, mas puro
engano nosso, depressa percebemos. Ele estaria ali, simplesmente à nossa
perspectiva, para formatado ser ele próprio, sem dó nem piedade por elas,
perfeitamente no controlo sobre o tipo já sem tempo para respirar pois tinha de
entrar ao mesmo tempo em múltiplas frases vindas das mais diversas e cruzadas
direcções. Mas o pior ainda não tinha comparecido na descrita ocasião e, dessa
vez, tivemos exacta noção disso mesmo antes do devido tempo. Foi quando
outras companheiras chegaram e tomaram seus lugares à mesma mesa com
subtraídas cadeiras à nossa e às restantes que supostamente por ali se sentavam
bem descansadas. Com tanta rapariga a falar num simultâneo difícil para
acompanhar na escrita nossa, o descanso já era e, passe com discrição, a
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