Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 88

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 Parei por um instante ante meu pulmão agora arfante, minha respiração no medo suplantava minha audição que se recusava ouvir o que ouvia: "Venham almas condenadas de todos os tempos e lugares". Paralisei, mesmo ante o calor que emergia das vísceras daquele lugar tentei recuar, mas ao puxar as cordas que me amarravam a superfície percebi que eu era um fantoche. Assim gritei, mas não havia quem me ouvisse, assim clamei, mas não havia quem me socorresse. Era o rato na ratoeira, a mosca seduzida pela luz traiçoeira. Nem todos os santos me salvariam das intempéries agourentas que clamavam e chamavam. Assim vi os primeiros vultos, ou seria minha mente desesperada pregando- me peças? Ecos de passos, cheiro da morte que lá habitava, minha pele ardia com muita intensidade. Fora assim que num desespero escrevi este texto temperado no enxofre do medo. A corda puxava-me para cima, mas o medo me tragava para baixo de modo que não me movia. Chorei, mas as lágrimas a nada resolviam. Minha sanidade se esvaia pois nem a poesia mais bela me resgataria. Amarrei o texto em papel nessa corda como esperança não de resgatar-me mas salvarem a si mesmos do caminho sem volta onde a prosa se converte em poesia na alforria do mal. Agora eles na superfície como ingênuos pecadores falavam de bombas para libertar-me sem saber o que junto libertaria. Não! Vociferei num último arfar inútil, pois antes que isso lessem e divulgassem, antes que soubessem a explosão todo mal liberaria. Assim as entranhas da Terra se abriam, mas chega a noite, noite o qual a face escura da Terra libera horrores. Deveria ter ouvido os Guardiões do Hades. https://gersonavillez.jimdo.com/ 82