LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Após algumas costuradas entre médicos e pacientes, a mulher grita "pai!", com
uma forte angústia, enquanto corre com mais desespero. Chegamos à ala de
recuperação. Ela se dirige à terceira porta. Finalmente a alcanço e a seguro.
— Pelo amor de Deus, mulher! Pare e volte! Você está atrapalhando muita gente
aqui!
Olhando-me com dor nos olhos, ela parece que vai desmoronar.
— Me larga, seu monstro! Você não consegue escutar? Meu pai está gritando
aqui! ELE PRECISA DE MIM!
Vários médicos param no corredor e olham para nossa cena, confusos.
Claramente eles também não escutam os gritos. A mulher aproveita o breve
momento de distração e mete o mais perfeito tapa já encaixado na minha face.
Sentindo o choque percorrer meus músculos, largo-a instintivamente, que não
perde tempo e abre a porta.
Dentro do quarto está o pai dela, deitado na cama, com quatro médicos em
volta. Eles estão visivelmente preocupados. O desfibrilador cardíaco está nas
mãos de um dos doutores. O rosto do velho vira na direção da porta. Encara a
mulher. Seus olhos lacrimejados se ligam por breves segundos, mas uma vida
inteira de pensamentos e emoções parecem ser transmitidas neste momento.
Com um leve sorriso em sua face, solta um aparente peso de seus ombros. O
monitor de frequência cardíaca escreve uma linha contínua na tela, enquanto soa
um sinal agudo e igualmente contínuo. O desfibrilador é utilizado. Nada muda.
O sinal do monitor continua perfeitamente alinhado. A mulher ajoelha no chão e
abre a boca enquanto segura a própria cabeça, sem emitir nenhum som.
Os gritos cessam.
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