Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 84

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 Após algumas costuradas entre médicos e pacientes, a mulher grita "pai!", com uma forte angústia, enquanto corre com mais desespero. Chegamos à ala de recuperação. Ela se dirige à terceira porta. Finalmente a alcanço e a seguro. — Pelo amor de Deus, mulher! Pare e volte! Você está atrapalhando muita gente aqui! Olhando-me com dor nos olhos, ela parece que vai desmoronar. — Me larga, seu monstro! Você não consegue escutar? Meu pai está gritando aqui! ELE PRECISA DE MIM! Vários médicos param no corredor e olham para nossa cena, confusos. Claramente eles também não escutam os gritos. A mulher aproveita o breve momento de distração e mete o mais perfeito tapa já encaixado na minha face. Sentindo o choque percorrer meus músculos, largo-a instintivamente, que não perde tempo e abre a porta. Dentro do quarto está o pai dela, deitado na cama, com quatro médicos em volta. Eles estão visivelmente preocupados. O desfibrilador cardíaco está nas mãos de um dos doutores. O rosto do velho vira na direção da porta. Encara a mulher. Seus olhos lacrimejados se ligam por breves segundos, mas uma vida inteira de pensamentos e emoções parecem ser transmitidas neste momento. Com um leve sorriso em sua face, solta um aparente peso de seus ombros. O monitor de frequência cardíaca escreve uma linha contínua na tela, enquanto soa um sinal agudo e igualmente contínuo. O desfibrilador é utilizado. Nada muda. O sinal do monitor continua perfeitamente alinhado. A mulher ajoelha no chão e abre a boca enquanto segura a própria cabeça, sem emitir nenhum som. Os gritos cessam. https://www.wattpad.com/user/ArthurKratza 78