Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 72

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 desespero, Vivaldo teve o disparate de procurar o prefeito – autoridade máxima local - e propor a descabida ideia de se limitar, por meio de uma macabra lei, o prazo de vida dos munícipes, o qual não deveria ultrapassar 70 anos, sob o pretexto de se economizar assim, verbas da saúde e de demais setores da administração municipal. Ciente dos danos político-eleitorais, que o nefasto decreto e a tresloucada e antipática medida traria, caso fosse implantada, o prefeito foi mais vivo que Vivaldo, e não quis saber de morte em seus despachos. Mas, tamanha era a obsessão daquele homem por um cadáver, que sua ânsia o consumia vorazmente. Ao final de cada expediente, sem ninguém para enterrar, dia após dia, o homem foi se afundando em tristeza. Vivaldo foi definhando, definhando, definhando. Primeiro o sorriso lhe sumiu do rosto. Depois, a voz da garganta. Em seguida, a força das pernas e, por fim, a pouca lucidez que ainda lhe restara na mente. Não houve outro jeito a não ser internar Vivaldo às pressas. Pouco tempo, após o seu ingresso no hospital da cidade, morria de causas desconhecidas o fúnebre agente daquela cidade. Por ironia ou capricho do destino, a morte encerrou os mórbidos negócios do mais recente defunto, após tantos anos. De funerarista a cliente: eis o fim de Vivaldo. Com o enterro do próprio proprietário, morreu também a combalida funerária e Eternidade seguiu fazendo jus ao seu curioso nome. http://escritorsergiosilva.blogspot.com https://web.facebook.com/prof.sergiosilva 66