LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
desespero, Vivaldo teve o disparate de procurar o prefeito – autoridade máxima
local - e propor a descabida ideia de se limitar, por meio de uma macabra lei, o
prazo de vida dos munícipes, o qual não deveria ultrapassar 70 anos, sob o
pretexto de se economizar assim, verbas da saúde e de demais setores da
administração municipal.
Ciente dos danos político-eleitorais, que o nefasto decreto e a tresloucada e
antipática medida traria, caso fosse implantada, o prefeito foi mais vivo que
Vivaldo, e não quis saber de morte em seus despachos. Mas, tamanha era a
obsessão
daquele homem por um cadáver,
que
sua ânsia o consumia
vorazmente.
Ao final de cada expediente, sem ninguém para enterrar, dia após dia, o
homem foi se afundando em tristeza. Vivaldo foi definhando, definhando,
definhando. Primeiro o sorriso lhe sumiu do rosto. Depois, a voz da garganta. Em
seguida, a força das pernas e, por fim, a pouca lucidez que ainda lhe restara na
mente.
Não houve outro jeito a não ser internar Vivaldo às pressas. Pouco tempo,
após o seu ingresso no hospital da cidade, morria de causas desconhecidas o
fúnebre agente daquela cidade. Por ironia ou capricho do destino, a morte
encerrou os mórbidos negócios do mais recente defunto, após tantos anos.
De funerarista a cliente: eis o fim de Vivaldo. Com o enterro do próprio
proprietário, morreu também a combalida funerária e Eternidade seguiu fazendo
jus ao seu curioso nome.
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