LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
senhor sabe, às vezes a gente faz um negócio, pensado que é uma coisa, e
depois é outra, imagina que a coisa é boa, e no final se arrepende, não dá pra
saber, nem tudo que reluz é ouro”, disse eu, forçando a barra. Ele deu um risinho
baixo, nem precisou pensar pra responder, "O senhor é duro na negociação, sua
fama é merecida. Bom, nesse caso, faz uma experiência, o senhor pega o tudo e
me deixa com o nada. Se no final, o senhor achar que o saldo foi negativo, o
senhor me procura que a gente acerta a diferença”. Agora o negócio tinha ficado
perfeito, tudo a troco de nada, com satisfação garantida ou eu podia pegar o
nada de volta. Descruzei os braços e lhe estendi minha mão aberta “negócio
fechado”, ele apertou minha mão por um longo tempo, e ali, no meio daquele fim
de mundo, vi a dentição brilhando na escuridão, uns caninos grandes, afiados,
parecia um lobo, um sorriso malicioso, não era só a cara de quem tinha acabado
de passar a perna em alguém num negócio, tinha mais, tinha uma feição de
loucura naquele sorriso arreganhado, parecia que ele ia tirar uma faca e me
matar ali mesmo, rindo feito louco.
- O senhor morreu na cama, com idade avançada, tinha quase 90 anos.
- É, ele mata devagar, bem devagar...Bom, a história é essa, já sabe o que você
tem que fazer?Eu quero que você pegue essa promissória, ache esse filho duma
puta e cobre o que ele me deve”
https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=190389
165