Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 171

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 senhor sabe, às vezes a gente faz um negócio, pensado que é uma coisa, e depois é outra, imagina que a coisa é boa, e no final se arrepende, não dá pra saber, nem tudo que reluz é ouro”, disse eu, forçando a barra. Ele deu um risinho baixo, nem precisou pensar pra responder, "O senhor é duro na negociação, sua fama é merecida. Bom, nesse caso, faz uma experiência, o senhor pega o tudo e me deixa com o nada. Se no final, o senhor achar que o saldo foi negativo, o senhor me procura que a gente acerta a diferença”. Agora o negócio tinha ficado perfeito, tudo a troco de nada, com satisfação garantida ou eu podia pegar o nada de volta. Descruzei os braços e lhe estendi minha mão aberta “negócio fechado”, ele apertou minha mão por um longo tempo, e ali, no meio daquele fim de mundo, vi a dentição brilhando na escuridão, uns caninos grandes, afiados, parecia um lobo, um sorriso malicioso, não era só a cara de quem tinha acabado de passar a perna em alguém num negócio, tinha mais, tinha uma feição de loucura naquele sorriso arreganhado, parecia que ele ia tirar uma faca e me matar ali mesmo, rindo feito louco. - O senhor morreu na cama, com idade avançada, tinha quase 90 anos. - É, ele mata devagar, bem devagar...Bom, a história é essa, já sabe o que você tem que fazer?Eu quero que você pegue essa promissória, ache esse filho duma puta e cobre o que ele me deve” https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=190389 165