Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 170

LiteraLivre Vl . 2 - n º 11 – Set / Out . de 2018
“ Fiquei sabendo que o senhor é bom de negócio , por isso tô aqui . Vim aqui porque tenho um negócio pra oferecer pro senhor , um negócio muito bom ”. A conversa tava mudando de rumo , agora ele falava de negócio , e negócio bom ! Justo agora , que eu tinha acabado de perder um negócio com o João . Como dizem , quando uma porta fecha , outra abre . Fiquei mais tranquilo , tirei a mão do revólver , arregacei a manga da camisa , cruzei os braços “ Se eu sou bom de negócio ? Bom , isso depende do negócio , se for negócio bom , todo mundo é bom de negócio . Que negócio é esse que o senhor tem pra oferecer ?”, disse eu , entrando no jogo dele . “ Percebo que o senhor é mesmo bom de negócio , não perdi meu tempo . Tanta gente ruim de negócio esses dias , o senhor mesmo , não acabou de perder um negocião com o João Loureiro ?”. Fiquei intrigado como aquele sujeito sabia tanta coisa , mas percebi que a gente pensava igual , muita gente ruim de negócio mesmo , e isso era bom sinal , quando os negociante se entende , é sinal de negócio bom . Comecei a ficar animado , mas não podia mostrar isso pra ele , será que ele tinha uma cebola boa , em conta , pra me vender ?“ Eu tô com um pouco de pressa , esse negócio que o senhor fala , do que se trata ?”. Ele continuava pitando calmamente na palha de milho , explorando minha curiosidade , dava pra ver que era comerciante experiente , e eu ansioso , mas não podia vacilar , podia por tudo a perder , “ esse negócio que o senhor tem pra me oferecer , o que é ?”, insisti , cada vez mais impaciente . “ Tudo ”, ele respondeu , “ como assim tudo ?” questionei , intrigado , “ é isso que eu tenho pra oferecer pro senhor : tudo ”. Eu tava cada vez mais perplexo , porque tudo parece ser coisa demais , difícil de definir , e eu precisava saber o que exatamente ele tava vendendo , pra não comprar gato por lebre , pedi que ele especificasse melhor o que tava oferecendo “ o senhor podia definir melhor o que o senhor entende por tudo ?”, indaguei , “ não , eu deixo isso a cargo do senhor , o senhor pode interpretar tudo como bem entender , e o que o senhor decidir , eu estou de acordo ”. Agora o negócio tava ficando interessante , afinal de contas , que homem não quer ter tudo na vida ? Mas quando o negócio é bom demais , o santo desconfia , e comecei a imaginar o custo , sim , porque tudo deve ser caro , eu tinha que saber o preço “ e quanto o senhor tá cobrando por tudo ?”, ele deu mais umas pitadas na palha de milho , e respondeu tranquilamente “ Nada ”. De novo , a coisa carecia de precisão . Se tudo é coisa demais , nada é coisa de menos , eu precisava saber do que se tratava , “ Nada ? Nada mesmo ? E esse nada , sou eu quem decide o que é também ? Igual o tudo ?”, “ exatamente ”, respondeu ele , impassível . Agora a coisa tava boa mesmo , tudo a troco de nada ? Nem na China eu achava um negocião desses . Mas como eu já tava embalado , resolvi forçar mais um pouco , arregacei de novo a manga da camisa , cruzei os braços e continuei “ É , parece ser um negócio interessante mesmo , e , por nossa conversa , dá pra perceber que o senhor é um sujeito firme no negócio , de palavra . Mas o
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