LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
vista ou sentida que a linguagem se torna ineficaz - porque há apenas o
“silêncio”: contemplativo e inexprimível, pois Sobre aquilo de que não se pode
falar, deve-se calar como está sentenciado brilhantemente em um dos aforismos
do livro.
O que os eletrodos colados à cabeça nunca vão entender é que o “artista”
fala a língua dos anjos. É em “Passárgada” que habitam. Ou você nunca se
perguntou, por que passamos tanto tempo absorto numa pintura? Ou por que há
poemas, paisagens, que nos tocam?
Jesus falava por “parábolas”. Nenhum profeta ou santo viu a face de “Deus”
e permaneceu impune. Há apenas os relatos de sensações. Talvez porque a
dinâmica nesse plano aja de uma forma que nos seja completamente
incompreensível. Uma forma de comunicação de um canal particular.
Na “arte” encontramos um pouco disso. Dessa comunicação estranha e ao
mesmo tempo tão familiar. Pois se manifesta de forma sinestésica. Assim
podemos entender a mensagem de um quadro, mesmo que ele esteja calado. Ou
quando lemos um poema ou escutamos uma música, e em nossa mente
formamos uma “imagem”.
Foi assim quando li um trecho de O Idiota, de Dostoiévsky, dentro de um
ônibus, a caminho do trabalho. Quando algumas lágrimas arriscavam cair dos
meus olhos, e eu, com vergonha dos outros passageiros que estavam ali,
tentando disfarçar. Ainda estava na metade do livro, quando suspenso, pensei “O
que é que precisa me dizer mais?” Com a nítida impressão de que as palavras
dali em diante seriam desnecessárias.
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