Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 136

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 Os Pés De Djamila Alberto Arecchi Pavia – Itália Ricardo era um jovem arquiteto, com trinta anos de idade. Estava saindo da história mais destrutiva de sua vida: um casamento fracassado. Então decidiu começar a cooperar no estrangeiro e foi para ensinar na Universidade de Argel. Morava em um apartamento grande, sendo solteiro. Tinha-o fornecido parcialmente: alguns móveis na cozinha, para as refeições rápidas de quando não queria sair, e no quarto um colchão, descansando diretamente no chão. Dormir no chão oferecia-lhe uma perspectiva particular do quarto: tudo parecia maior. Seus amigos propuseram-lhe uma empregada doméstica para limpeza, uma mulher de confiança, divorciada, com pouco mais de trinta e cinco anos. Fazia-se chamar Djamila (linda), mas parecia mais um sobrenome do que um nome verdadeiro. A mulher recebeu as chaves do apartamento, ia à casa de Ricardo duas manhãs por semana. Aconteceu que, em alguns desses dias, ele não tinha cursos ou outros compromissos e ficava em casa. Às vezes, aconteceu que chegasse bastante cedo para encontrá-lo ainda na cama. Djamila andava na rua completamente coberta por um véu branco, como é costume em Argel, e com uma espécie de mordaça (haik) cobrindo a boca e a parte inferior do rosto. Entrando, ia vestir-se de maneira mais confortável em vista do trabalho doméstico. Em casa, trabalhava com um vestido leve, colorido, até o joelho, vestindo chinelos confortáveis, ou mais frequentemente com os pés descalços. 130