LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
O jardim de Ana
Marione Cristina Richter
Venâncio Aires/RS
Era uma vez, ou já foram duas? Na verdade, para Ana já não fazia
diferença, o tempo já não corria mais da mesma forma.
Tudo mudou quando ela chegou ao asilo e lhe contaram que ali seria seu
novo lar. Conheceu o quarto que dividiria com outra senhorinha, quase surda,
que não conversava muito. Sua companheira de quarto falecera duas semanas
antes, por isso abriu a vaga.
Mostraram a cozinha, a área de convivência e vários outros cômodos, mas
foi quando chegou no pátio dos fundos viu, bem lá nos fundos mesmo, um portão
velho em um muro alto. Perguntou o que tinha lá e disseram-lhe que um dia fora
um jardim, mas que agora não havia nada.
Os dias se passaram, de forma lenta e arrastada em seu novo lar, onde
ninguém vinha lhe visitar. Que tédio! Chateada com estes dias sem fim, foi
caminhar no pátio, com seu chinelinho de pelúcia, dores nas juntas e passos
curtos. Quando se deu conta estava em frente ao portão velho do antigo jardim
e, como não estava trancada, resolveu entrar.
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