Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 82

LiteraLivre Vl. 2- n º 11 – Set / Out. de 2018

Grito Arthur Kratza Tietê / SP

Uma noite de trabalho nunca foi tão monótona. É comum em feriado de sextafeira ter algum acidente no trânsito ou briga em festas, movimentando o hospital. Não esta noite. As pessoas devem estar mais cautelosas, finalmente. Os índices de mortalidade agradecem. Uma mosca voa ao redor da recepção e pousa no meu expresso. Deixe-a, penso. Até a mosca tem mais diversão do que eu. Algumas pessoas aguardam no plantão médico, mas nada além do normal. Penso em ligar o celular e jogar algo, mas sei que a câmera atrás da recepção irá me entregar para a direção. Uma chatice. Uma mulher, com poucas rugas no rosto e semblante pesado, levanta e caminha até a recepção, com uma expressão confusa.— Desculpe, mas meu pai está me chamando. Ele está em uma das salas de recuperação. Acho que preciso vê-lo logo. Chamando? Até os pacientes podem usar a internet e eu não.— Perdoe-me senhora, mas terá que aguardar. A visita será liberada em quinze minutos.— Mas meu pai está me chamando. Você não está escutando?
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