Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 174

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 parecido com o perfume chinês que comprou uma vez para sua mulher, e um xale longo e avermelhado bailando como um apêndice dançarino. Sai imediatamente da catarse e procura o que lhe havia feito voltar ao mundo. Uma mulher, de tez delicada e nívea, com os cabelos negros em coque presos por palitos adornados e um qipao rubro como sangue. Um xale transparente, também vermelho, parecia jogado displicentemente sobre seus ombros. Ela torna um pouco o pescoço, como se tivesse notado o olhar do estranho. Um sorriso convidativo de canto da boca pintada e outro sorriso nos olhos delineados o fizeram acreditar que deveria ir com ela. Talvez isso fosse o tesouro da noite, que sua figura anuiu quando trilhando as águas da represa. A mulher continuava, seguindo para o casino. O deslumbrante xale parecia dotado de vida, pois bailava no ar. Um movimento de torcer para dentro em sua ponta se repetia, como uma mão chamando o incauto turista. Ele segue. Em poucos passos já está no portal de neon. Um concierge solícito pega sua mala e casaco e aponta com a mão branca enluvada para dentro, para mesas disponíveis. Ele olha ao redor, procurando uma em particular e encontra com facilidade. Numa mesa estava ela, a mulher de xale, separando algumas fichas e pegando algumas cartas de um crupiê. Sozinha. Ele troca quase todas suas patacas por fichas de aposta. Dirige-se a mesa em que ela está. Blackjack. Um jogo simples, pensou. Um novo sorriso encabulado da mulher o incentiva ainda mais a se sentar. Coloca tuas fichas sobre a mesa e pede para descer algumas cartas. Um par de figuras. Vê sua companheira um pouco preocupada pedir mais algumas cartas. Estava confiante. Coloca mais algumas fichas na aposta e a vê desistir. Essa rodada era dele. E foi. Começa a confiar mais no jogo. Um novo par de figuras como o anterior se apresenta para ele. Ele sobe a aposta. Leva novamente. As rodadas seguem. E sua sorte também. Em alguns momentos, sua parceira estava quase sem fichas. Ele não pretendia deixa-la sair da mesa antes de se conhecerem. Perde uma rodada para ela propositalmente. Ao fim da noite, conseguiu 10 vezes o que havia em sua carteira. Um jogo simples. Incentivado pela bela mulher, que parecia estar o apoiando a cada nova aposta. Cada vez que ganhava, principalmente da casa. Encheu-se de esperança. Ela certamente esperava algo dele aquela noite. Sem antes trocar uma, ela retira um estojo de pó do bolso, faz sinal para ele de que iria retocar a maquiagem, mas com a mesma sutileza com que pediu para segui-lo antes. Ela sai, e dois minutos depois, o homem que havia marcado seu caminho por canto de olho, decide baixar o jogo e pegar as fichas. Era isso o prêmio da noite. Era isso que estava seguindo. 168