LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
parecido com o perfume chinês que comprou uma vez para sua mulher, e um
xale longo e avermelhado bailando como um apêndice dançarino.
Sai imediatamente da catarse e procura o que lhe havia feito voltar ao mundo.
Uma mulher, de tez delicada e nívea, com os cabelos negros em coque presos
por palitos adornados e um qipao rubro como sangue. Um xale transparente,
também vermelho, parecia jogado displicentemente sobre seus ombros. Ela torna
um pouco o pescoço, como se tivesse notado o olhar do estranho. Um sorriso
convidativo de canto da boca pintada e outro sorriso nos olhos delineados o
fizeram acreditar que deveria ir com ela. Talvez isso fosse o tesouro da noite, que
sua figura anuiu quando trilhando as águas da represa.
A mulher continuava, seguindo para o casino. O deslumbrante xale parecia
dotado de vida, pois bailava no ar. Um movimento de torcer para dentro em sua
ponta se repetia, como uma mão chamando o incauto turista. Ele segue.
Em poucos passos já está no portal de neon. Um concierge solícito pega sua mala
e casaco e aponta com a mão branca enluvada para dentro, para mesas
disponíveis. Ele olha ao redor, procurando uma em particular e encontra com
facilidade. Numa mesa estava ela, a mulher de xale, separando algumas fichas e
pegando algumas cartas de um crupiê. Sozinha.
Ele troca quase todas suas patacas por fichas de aposta. Dirige-se a mesa em
que ela está. Blackjack. Um jogo simples, pensou. Um novo sorriso encabulado
da mulher o incentiva ainda mais a se sentar. Coloca tuas fichas sobre a mesa e
pede para descer algumas cartas.
Um par de figuras. Vê sua companheira um pouco preocupada pedir mais
algumas cartas. Estava confiante.
Coloca mais algumas fichas na aposta e a vê desistir.
Essa rodada era dele. E foi.
Começa a confiar mais no jogo. Um novo par de figuras como o anterior se
apresenta para ele. Ele sobe a aposta. Leva novamente.
As rodadas seguem. E sua sorte também. Em alguns momentos, sua parceira
estava quase sem fichas. Ele não pretendia deixa-la sair da mesa antes de se
conhecerem. Perde uma rodada para ela propositalmente.
Ao fim da noite, conseguiu 10 vezes o que havia em sua carteira. Um jogo
simples. Incentivado pela bela mulher, que parecia estar o apoiando a cada nova
aposta. Cada vez que ganhava, principalmente da casa. Encheu-se de esperança.
Ela certamente esperava algo dele aquela noite.
Sem antes trocar uma, ela retira um estojo de pó do bolso, faz sinal para ele de
que iria retocar a maquiagem, mas com a mesma sutileza com que pediu para
segui-lo antes. Ela sai, e dois minutos depois, o homem que havia marcado seu
caminho por canto de olho, decide baixar o jogo e pegar as fichas. Era isso o
prêmio da noite. Era isso que estava seguindo.
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