Revista LiteraLivre 11ª Edição | Page 162

LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018 Sorte Grande Aldenor Pimentel Boa Vista/RR Nunca fui homem de sorte, ainda que tentasse. Toda semana era sagrado: eu tava lá, fazendo minha fezinha. Comecei com jogo do bicho: tentava o leão e era vaca na cabeça; ia pro pavão e dava zebra. Larguei os bichos, mas fiquei com os cavalos de corrida: arriscava no azarão, ganhava o favorito; apostava no invicto, vencia o estreante. Abandonei os cavalos e procurei os cassinos: no caça-níquel, achei que encontraria maré de sorte, e nada. Apostei minhas fichas na roleta e fiquei rodado. Tentei minha última cartada e saí de mãos abanando. Desesperado, parti pro tudo ou nada: joguei na sena, megasena, telesena; apostei no Ayrton Senna e perdi. Uma hora, eu já frequentava até bingo de igreja, não fugia nem de par ou ímpar e se, alguém me punha à prova, eu peitava: “Quer apostar?” Só sei que, nessa aí, tudo o que eu ganhei foi prejuízo. Percebi que precisava virar o jogo. E desse dia em diante, minha sorte mudou. Parei de fazer apostas. E agora toda vez que não jogo, ganho: o dinheiro que deixo de gastar. Com isso, já fiz uma bela grana. Fala a verdade: isso é ou não é tirar a sorte grande? artedealdenorpimentel.blogspot.com 156