LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
Sorte Grande
Aldenor Pimentel
Boa Vista/RR
Nunca fui homem de sorte, ainda que tentasse. Toda semana era sagrado:
eu tava lá, fazendo minha fezinha. Comecei com jogo do bicho: tentava o leão e
era vaca na cabeça; ia pro pavão e dava zebra.
Larguei os bichos, mas fiquei com os cavalos de corrida: arriscava no
azarão, ganhava o favorito; apostava no invicto, vencia o estreante.
Abandonei os cavalos e procurei os cassinos: no caça-níquel, achei que
encontraria maré de sorte, e nada. Apostei minhas fichas na roleta e fiquei
rodado. Tentei minha última cartada e saí de mãos abanando.
Desesperado, parti pro tudo ou nada: joguei na sena, megasena, telesena;
apostei no Ayrton Senna e perdi.
Uma hora, eu já frequentava até bingo de igreja, não fugia nem de par ou
ímpar e se, alguém me punha à prova, eu peitava: “Quer apostar?”
Só sei que, nessa aí, tudo o que eu ganhei foi prejuízo. Percebi que
precisava virar o jogo. E desse dia em diante, minha sorte mudou. Parei de fazer
apostas. E agora toda vez que não jogo, ganho: o dinheiro que deixo de gastar.
Com isso, já fiz uma bela grana. Fala a verdade: isso é ou não é tirar a sorte
grande?
artedealdenorpimentel.blogspot.com
156