LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018
A Escolha
Waleska Barbosa
Brasília/DF
Aconteceu quando contava uns 13, 14 anos. Décadas depois, a história subia à
memória. Aproveitando a visita da mãe, agora uma simpática idosa, boa na arte
de fazer bolos e outras guloseimas, resolveu compartilhar o causo. Era como uma
prova de que tudo tinha valido a pena. Dessas que só a chegada do futuro pode
apresentar.
Naquela época, nas ruralidades do sul do país, havia liberdade para os infantes.
Por isso, estranhou dar de cara com o pai na saída da escola. A raridade da cena
fazia com que se parecesse com alguma tragédia iminente. A descoberta de
algum segredo. Traquinagem. Qualquer coisa que nem sabia, mas imaginava que
o envolvia. Tão intrigante que era a figura paterna estar ali àquela altura do dia.
O pai guardou as palavras. Abusou dos gestos. Tocou-lhe como se fora cabeça de
gado, até o banco do velho jipe. Apontou o assento. Fechou a porta. Arrancou
com tudo. No percurso, apenas os sons do motor e da luta dos pneus contra os
obstáculos da estrada de terra. Como a intensificar o clima de mistério, a poeira
que tomava conta dos arredores dava pinta de ser bruma em filme de terror.
Gelo selo em show de rock.
Findo o caminho, foi convidado a trocar de roupa. Substituir o uniforme por dupla
simples e surrada de short e blusa. Trajes “de casa”, como se dizia na época. Já
no terreiro, recebeu nova missão. Procurar uma enxada no galpão construído
com palha e madeira. E, em posse dela, cuidar do espaço agora demarcado. Uma
espécie de quadrado ou retângulo, nem muito grande, nem muito pequeno, onde
seria o encarregado a partir daquele momento, de fazer um plantio de milho, o
que envolvia todas as etapas que levariam uma semente a virar espiga no ponto
de ser colhida.
As primeiras palavras desde que fora apanhado na escola davam conta que a
lavoura era item obrigatório nas atividades domésticas dali em diante. Era a
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