Revista ideaas | DOIS |
Impacto social
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MAIS SAÚDE,
MENOS LIXO.
Conheça o Cataki, o aplicativo que une
sustentabilidade e inclusão social, e, de quebra,
ainda colabora para cidades mais limpas
A
comida que sobra dias na gela-
deira, os produtos que vencem
no armário, as roupas e calça-
dos usados um par de vezes e que vão
parar no fundo do guarda-roupa... O
que a gente compra precisa ser utilizado,
caso contrário, vira lixo. E, de uma forma
ou de outra, gera desperdício e onera o
meio ambiente.
O raciocínio parece simples, até óbvio,
mas a gestão de resíduos nem sempre
funciona e os materiais dispensáveis às
vezes acabam nas ruas, praças, terrenos
baldios, rios... Há muito o que fazer para
dar melhor destino de tudo isso e, entre
outras coisas, preservar a nossa saúde.
A cada dia, estamos gerando mais lixo;
muitos municípios ainda descartam os
resíduos coletados em lixões, e não para
aterros sanitários e, para piorar, a coleta
seletiva não avança. Para se ter uma ideia,
cerca de 10% do total de resíduos sóli-
dos gerados em 2017 no Brasil – algo em
torno de 7 milhões de toneladas – não
foram coletados. Os dados são da 15ª
edição do Panorama dos Resíduos Sóli-
dos 2017, estudo da Associação Brasileira
de Empresas de Limpeza Pública e Resí-
duos Especiais (Abrelpe).
“Discutimos segurança, saúde e educação,
mas não falamos sobre gestão de resí-
duos sólidos que, na verdade, é transver-
sal a esses temas. Ao abordar o assunto,
podemos trabalhar segurança alimentar
(saúde) e prevenção ao desperdício e rea-
proveitamento de nutrientes do resíduo
orgânico para a agricultura (educação),
por exemplo. Também podemos evitar
o descarte de material como entulhos
em locais que podem se tornar ameaça
à população (segurança e saúde)”, afirma
Gabriela Otero, coordenadora do depar-
tamento técnico da Abrelpe.
fotógrafa: Ana Oshiro/Divulgação
catador: Michael Douglas Bezerra da Silva
Sabemos que o papel
dos catadores no
cenário da saúde
pública é bem
importante.
O descarte incorreto
de resíduos sólidos,
é um problema de
saúde pública, porque
gera alagamentos
e doenças.
Faz sentido. A discussão sobre o lixo é
ampla e multifacetada, por isso, sim,
precisamos falar sobre o assunto, adotar
medidas no dia a dia para lidar com ele – Henrique Ruiz,
o consumo consciente é o primeiro passo coordenador do Cataki
– e olhar para os movimentos que traba-
lham para mitigar os efeitos que os resí-
duos sólidos causam no meio ambiente
e na sociedade.
TECNOLOGIA, RECICLAGEM
E TRABALHO SOCIAL
Entre as medidas, a reciclagem está no centro dessa engrenagem. E, no Brasil, os
catadores ou coletores de lixo são peças fundamentais no equilíbrio desse ecossis-
tema. O Movimento Nacional dos Catadores estima que, atualmente, haja quase
1 milhão de pessoas exercendo essa função no Brasil.
Eles têm papel fundamental na destinação do lixo reciclável, principalmente nas
grandes cidades. Para ajudá-los a se organizar, surgiu o Cataki, projeto criado em
2016 pela organização não-governamental Pimp my Carroça, do ativista e grafiteiro
Mundano. Ele trabalha há 12 anos com reforma e pintura de carroças e idealizou o
Cataki, aplicativo para conectar catadores com usuários interessados em descartar
lixo – basta ter um celular com conexão à internet para aderir ao serviço.
CATAKI EM NÚMEROS
Estão presentes em
480
cidades brasileiras
Possuem
2.600
profissionais cadastrados
Já registraram mais de
150 mil downloads
no aplicativo
Os catadores registrados pelo app têm renda
R$ 300 a R$ 3.000
mensais
de
60% deles usam
carros como kombis e pequenos
e
caminhões para o transporte
“O Cataki não cobra dos catadores e usuários pelo uso do aplicativo. Ganhamos
com trabalhos de consultoria B2B”, diz Henrique Ruiz, coordenador do aplicativo
Cataki. Ele conta: “Criamos o app para conectar as duas pontas e ajudar a movi-
mentar adequadamente a cadeia do lixo. E para melhorar a vida dos catadores.
Deu certo”, diz. “Além disso, sabemos que o papel dos catadores no cenário da
saúde pública é bem importante. O descarte incorreto de resíduos sólidos, é um
problema de saúde pública, porque gera alagamentos e doenças.”
O próximo passo é incrementar as funcionalidades do aplicativo - a atualização
deve ocorrer no início de 2020. Entre outras melhorias, haverá funções similares
às dos apps de carros compartilhados, como Uber. Os catadores poderão ser ava-
liados e receber gratificações. Também haverá possibilidade de o usuário anunciar
uma coleta e o catador pegá-la, como funciona com os motoristas de carro.
Por fim, o Cataki vai passar a trabalhar com volumes maiores e usuários mais
assertivos, atendendo a bares, restaurantes, hospitais e empresas de eventos. “Os
catadores vão ser remunerados pelos estabelecimentos e pela venda do material
recolhido. Estamos muito otimistas, acreditando que a vida deles vai melhorar
ainda mais”, afirma Ruiz. A sociedade e o meio ambiente agradecem.
PANORAMA DA
RECICLAGEM NO BRASIL
Confira alguns dados sobre o descarte do lixo no Brasil,
de acordo com Dados da 15ª edição do Panorama dos
Resíduos Sólidos 2017, estudo da Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais .
PARTICIPAÇÕES DAS REGIÕES DO
PAÍS NO TOTAL DE RSU COLETADO
Norte
6 ,5 %
Nordeste
22,4 %
Discutimos
segurança,
saúde e
educação, mas
não falamos
sobre gestão
de resíduos
sólidos que,
na verdade, é
transversal a
esses temas.
Gabriela Otero,
coordenadora do
departamento técnico
da Abrelpe
Centro
oeste
7 ,3 %
Sudeste
52,9 %
Sul
10,9 %
PERCEPÇÃO DOS BRASILEIROS
COM RELAÇÃO AOS RESÍDUOS
Conhecem
embalagens
retornáveis de vidro
28 %
Sabem que garrafas
PET podem ser
recicladas 40 %
Afirmam que o serviço de coleta
seletiva não é disponibilizado ou não
sabem se isso ocorre no município 44 %
Sabem que
alumínio é
reciclável 47 %
Sabem que
papel é
reciclável
Sabem que
vidro é
reciclável
Sabem que
plástico é
reciclável
50 %
64 %
77 %