Revista ideaas Edição DOIS | Page 16

Revista ideaas | DOIS | Ponto de vista TECNOLOGIAS A FAVOR DA SAÚDE A tecnologia sempre existiu na área da saúde. Todo saber médico é uma tecnologia, pois en- volve padronização, fundamentos, aquisição de habilidades e treinamento. A própria anamnese, que é o momento de interação entre o médico e o pa- ciente, é uma tecnologia, pois há diversas habilidades incluídas nesse processo. Mirhelen Mendes de Abreu Professora de Reumatologia – UFRJ Existem três tipos de tecnologias: as duras, semiduras e leves. As duras são as que requerem insumos que otimizam os processos ou executam ações em larga escala, como métodos diagnósticos e terapêuticos. As semiduras envolvem processos – mecanismos proces- suais de gestão de risco e de fluxo de trabalho estão dentro dessa definição. Por último, as tecnologias le- ves têm a ver com a relação, a comunicação, fluxos e processos de tratamento e hierarquia. Todas as esferas da tecnologia empregada na saúde estão em contínua transformação. No entanto, as relaciona- Doutorado em Saúde das à comunicação, seja no ambiente de trabalho em Coletiva – Especialista saúde, seja na relação entre os profissionais da área são em Avaliação de as mudanças realmente transformadoras no segmento. Tecnologias em Saúde Essa transformação é representada pela consolidação de outros players, isto é, profissionais de saúde diversos Pós-doutorado na atuando de forma definida no processo de trabalho; pela Escola de Medicina conscientização do paciente em seu papel no processo da Universidade de de cuidado e pelos processos de trabalho, acreditação e Harvard (EUA) certificação de qualidade institucionais. Dentre todas as tecnologias, desta- co a Telemedicina como a de maior exigência de eficiência em todas as dimensões, já que é a tecnologia que vai consolidar a revolução da relação médico-paciente. Talvez por ser um ponto de maior interação com a bioética, ela vai exigir maior efi- ciência de todas as esferas: duras, semiduras ou leves. Sem dúvida alguma, cada vez mais, será preciso usar recursos com inteligência e equilíbrio. Explico: uma expertise é uma tecnologia. Um marceneiro, por exem- plo, utiliza tecnologias para transformar madeira em um banco. Ele pode usar sua tecnologia leve (como cortar e medir) e uma tecnologia dura (como um serro- te e um martelo) para construir um banco em 20 dias. No entanto, ele pode atualizar seus conhecimentos (tecnologias leves) sobre os cortes e ajustes, bem como sobre o melhor emprego das tecnologias duras dis- poníveis. Com essa aliança, ele poderá executar e até mesmo aprimorar sua tecnologia leve em maior escala, garantindo maior precisão de corte, mais rapidez e quantidade de produção. Essa associação vai permitir que ele entregue, nos mesmos 20 dias, 20 bancos, em vez de apenas um. Para isso, no entanto, também vai ter de reformular sua lógica de recebimento e entrega. Por fim, precisará contar com parceiros e novos cola- boradores para executar sua produção com eficiência. Toda essa quantidade de serrotes elétricos, máquinas e afins, porém, pode se tornar uma grande parafernalha se ele não souber empregá-la para os corretos fins. Seu custo pelo emprego exagerado e desnecessário pode aumentar. E ele ainda não terá a garantia de que os bancos terão maior qualidade. Isso poderá exigir reparos frequentes, que utilizam mais recursos, o que poderá provocar perda de clientes e, ainda, custos de processos judiciais decor- rentes da insatisfação com clientes. A associação de tecnologias duras e semiduras com tecnologias leves na área da saúde tem uma lógica semelhante. O uso racional das tecnologias duras e semiduras é potencializada pelas leves. Em qualquer esfera do conhecimento ou campo de trabalho é na leve que está a principal vantagem transformadora. Conhecimento sempre será poder e quem entender que essa é a que verdadeiramente importa, sairá na frente da lógica mutante do mercado. As tecnologias agilizam os processos e as interven- ções, e qualificam a transparência nas relações. Mas enquanto houver resistência a mudanças realmente efetivas, as tecnologias duras podem ser usadas de modo inadequado e exagerado. Isso certamente acar- retará em alocação ineficiente dos recursos. Os resul- tados podem ser desastrosos. Por isso, acredito que se por um lado a tecnologia em saúde está evoluindo, de outro, precisa de atenção para não cair nas armadilhas que acabo de mencionar 16