Revista ideaas Edição DOIS | Page 21

“Liderança é sua habilidade de inspirar as pessoas a agir. Significa conquistá-las por inteiro: espírito, coração, mente, braços, pernas…” James C. Hunter, autor de O Monge e o Executivo citação acima traduz o espírito do que significa lide- rar. E, mais do que em qualquer segmento, na saúde essa vocação de inspirar pessoas a agir, a trabalhar com corpo e alma, deve estar sempre muito pre- sente. Porque existe uma aura diferente quando se trata de gerir um negócio nessa área que envolve o cuidado com a vida humana. O interesse em ajudar gente, aliás, não raro é o grande responsável pela escolha por trabalhar com saúde. Foi o que motivou, o médico Paulo Hoff, líder de Oncologia na Rede d’Or São Luiz de hospitais, presidente da Oncologia D’Or (rede de clínicas ambulatoriais de oncologia) e vice-presidente e diretor geral do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – Hospital das Clínicas – USP). Ele entrou na faculdade de Medicina aos 16 anos. “Sempre gostei muito de ciência e queria uma profissão na qual tivesse a possibilidade de ajudar pessoas”, diz. “Dei sorte, porque escolher o que fazer da vida tão jovem poderia ter sido um problema, mas, feliz- mente, à medida que fui cursando a universidade, tive certeza de que estava no caminho certo”, acrescenta. E engana-se quem acredita que os grandes líderes nessa área são apenas aqueles que possuem formação na área médica. Pelo contrário, na área da saúde, os setores administrativos das mais variadas instituições de saúde são tão importantes quanto as equipes médicas e de enfermagem, que lidam diretamente com os pacientes. É o caso de Allan Finkel, vice-presidente corporativo e gerente-geral da Novo Nor- disk. Segundo ele, certamente o compromisso de lidar com vidas faz do trabalho na área da saúde uma responsabilidade enorme: “Para se ter uma ideia, só em 2018, foram mais de 1,6 milhão de pacientes beneficiados por produtos da Novo Nordisk no Brasil. Quando somamos a isso os filhos, pais, avós e outros parentes envolvidos nas vidas dessas pessoas que convivem com doenças crônicas como diabetes, obesidade, hemofilia, para citar algumas, chegamos à marca de dezenas de milhões de vidas impactadas pelo nosso trabalho”, conta o vice-presidente da empresa da indústria farmacêutica. AGENTE DE MUDANÇA Gaetano Crupi, presidente e gerente-geral da BMS (Bristol Myers Squibb) Brasil, está na indústria farma- cêutica há quase 42 anos. Ele nunca teve dúvida de que queria trabalhar como administrador. E, ao ingressar na área da saúde, juntou o útil ao agradável. “Na Bristol, sinto-me abençoado por fazer parte de projetos cientí- ficos que têm a missão de desenvolver produtos de tec- nologia avassaladora para mudar o curso de doenças como o câncer”, diz. Crupi afirma que estar em contato com o núcleo de cientistas, lidar com os seus times e todos os stakeholders o motiva muito. “Ser um agente de mudança, criar um modelo de engajamento, onde todos estejam bem informados e dispostos a adotar a inovação no dia a dia, é estimulante. Trabalho para fazer com que a inovação chegue a todos os pacientes o mais rápido possível. É para isso que acordo todos os dias e me esforço para fazer acontecer. E, mais do que isso, me desdobro para motivar todos no meu entorno a se sentirem assim também”, conta. Ser um agente de mudança, criar um modelo de engajamento, onde todos estejam bem informados e dispostos a adotar a inovação no dia a dia é estimulante. Trabalho para fazer com que a inovação chegue a todos os pacientes o mais rápido possível. É para isso que acordo todos os dias e me esforço para fazer acontecer. Gaetano Crupi BMS (Bristol Myers Squibb) Mais do que uma profissão, ser médico é um sacerdócio. É quase como um chamado. Porque um bom profissional é aquele dedicado 24 horas ao paciente. Paulo Hoff Rede D’Or São Luiz Sem demérito a outras profissões, a prática da medicina exige estudo constante, atua- lização permanente, atenção ao detalhe e disponibilidade completa”, define Paulo Hoff. Ele, que se especializou em oncologia, também se dedica à área administrativa, aos seus pacientes na sua clínica, aos afazeres no Icesp e à orientação aos residentes na USP, uma “prova” de que também é movido pela paixão à causa da saúde. Outro profissional que acredita que o trabalho nesse campo é especial é Emer- son Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa, empresa de diagnósti- cos médicos. “Costumo dizer que qualquer pessoa de qualquer equipe aqui na empresa tem um propósito muito forte, porque o seu trabalho pode salvar vidas. E salva. Isso tem um valor enorme para todos os colaboradores. Eles percebem que podem ajudar a melhorar o destino das pessoas.” Emerson Gasparetto Dasa INSPIRAR E LIDERAR Trabalhar na área da saúde, por si só, não motiva todo mundo a dar o seu melhor. Porque, claro, isso depende da cultura da empresa e, mais do que nunca, das lideranças. Mas, afinal, será que existe um roteiro para um líder ser inspirador? Uma pesquisa da Bain & Company – uma das principais consultorias globais na área de gestão – publicada no Harvard Business Review, mostra que não há uma receita, mas existem vários tópicos que ajudam um líder a se tornar inspirador (note que ele não nasce assim, ele se torna). Para entender como isso acontece, eles entrevistaram 2 mil pessoas e descobriram, entre outros achados importantes, que o verdadeiro líder inspirador é aquele que usa sua combinação única de força para motivar pessoas, individualmente e em equipe, a assumir missões desafiadoras e responsabilizá-las por isso. Os “liderados” respondem porque são empoderados e não porque são controlados ou comandados. Ou seja, o líder inspira pelo exemplo – com ações que demonstram visão, foco, responsabili- dade, equilíbrio diante do estresse, otimismo, vitalidade, acessibilidade, tolerância e empatia – e por compartilhar responsabilidades e sucessos. O líder inspira pelo exemplo – com ações que demonstram visão, foco, responsabilidade, equilíbrio diante do estresse, otimismo, vitalidade, acessibilidade, tolerância e empatia – e por compartilhar responsabilidades e sucessos. Isso está muito claro no dia a dia de Gaeta- no Crupi, da BMS, ele afirma que um dos maiores desafios de trabalhar em posições de liderança é que, à medida que se cresce na profissão e se passa a liderar, descobre- -se rapidamente que os seus resultados são consequência da motivação da sua equipe. “Quando você é um contribuinte é dono do seu resultado. Quando é um líder, faz cada vez menos e depende que os outros façam mais. Por isso, pessoas serão sem- pre o maior fundamento da companhia. E, junto delas, vem a inspiração. À medida que consegue fazer essa alquimia com os indivíduos e que todos na equipe enten- dam o propósito de cada um, a capacidade de gerar resultados é ilimitada”, afirma. Assim como Crupi, muitos gestores na área da saúde vêm trilhando o caminho da liderança inspiradora justamente por reunir características apontadas na pesquisa da Bain & Company. Ser um líder na companhia em que trabalhava não era um plano de Emerson Gasparetto. Sua “praia” era o dia a dia com pacientes. Radio- logista de formação, durante um período, ele conciliou a clínica médica com a academia, como professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ). Até que a empresa em que estava foi vendida e ele recebeu um convite para integrar a área de gestão. Foi assim que migrou para essa esfera. “Estar no campo da saúde é um privilégio. Porque, queira ou não, fica mais fácil convencer a equipe dos nossos propósitos. Sem dúvida, meu conhecimento téc- nico de clínica agrega bastante ao meu dia a dia e ao convívio com os colaborado- res na Dasa. Mas não uso o fato de ser médico como um supertrunfo. Às vezes, prefiro me despir desse chapéu e me abrir para ouvir toda e qualquer pessoa da companhia. Como líder, o que mais faço na minha rotina é conversar com pes- soas. Reconheço que tenho um papel importante de ‘vender o sonho’ de que há muitas recompensas de se trabalhar nesse mercado. Sei que preciso inspirá-las a enxergar a importância do paciente sempre em primeiro lugar”, diz. DAR O MELHOR DE SI PELO OUTRO Se liderar times em qualquer negócio exige dedicação e técnica, no segmento da saúde, talvez, a responsa- bilidade seja ainda maior. Porque ser uma liderança inspiradora vai, em última instância, estimular todos na equipe a dar o seu melhor pelo outro. Para valorizar e lidar com vidas. “O grande desafio em todas as posições de liderança que ocupei (e ocupo) até hoje foi garantir que os times que trabalham comigo se sintam engajados, motiva- dos, e façam o seu trabalho com paixão. Sintam que têm oportunidade de constante desenvolvimento e prazer profissional. Invisto a maior parte do meu dia em pessoas. E acredito que temos conseguido resulta- dos importantes. Nossas pesquisas de clima mostram que estamos no caminho certo, pois 98% dos nossos funcionários dizem que têm orgulho de trabalhar na Novo Nordisk Esse índice me motiva ainda mais a fazer a diferença na vida das pessoas com quem trabalho. Para mim, isso é um grande orgulho”, diz Allan Finkel. SER UM LÍDER NA ÁREA DA SAÚDE ENVOLVE MAIS DO QUE SIMPLESMENTE SABER ADMINISTRAR UM NEGÓCIO OU UMA EQUIPE. TEM A VER COM A PAIXÃO PELO SER HUMANO E PELO DESEJO DE FACILITAR O ACESSO A MEDICAMENTOS, TRATAMENTOS E SERVIÇOS QUE MELHOREM A VIDA DE TODOS O grande desafio em todas as posições de liderança que ocupei (e ocupo) até hoje foi garantir que os times que trabalham comigo se sintam engajados, motivados, e façam o seu trabalho com paixão. Sintam que têm oportunidade de constante desenvolvimento e prazer profissional. Invisto a maior parte do meu dia em pessoas. Allan Finkel Novo Nordisk Orgulho define também o que Paulo Hoff sente pelos times com os quais trabalha. “Assumir e desempenhar tantas atividades só é possível porque conto com equipes que estão na mesma frequência que a minha. Isso é importante, porque, na cultura latina, temos a tendência de associar o sucesso sempre à figura do chefe. Mas o líder será bem-sucedido somente se conseguir ter um time forte ao seu redor. A marca do êxito é o triunfo da equipe, mais do que o seu sucesso pessoal.” Liderar não é fácil. Ser um líder inspirador é mais difícil ainda. Porque praticar a empatia, a tolerância, saber ouvir e estar aberto ao novo é um exercício diário. Mas profissionais como Allan Finkel, Emerson Gasparetto, Gaetano Crupi e Paulo Hoff mostram que é possível. Os bons líderes só podem ser inspiradores quando conseguem fazer a dife- rença no recurso mais importante de uma empresa: o capital humano.