“Liderança é sua
habilidade de
inspirar as pessoas
a agir. Significa
conquistá-las por
inteiro: espírito,
coração, mente,
braços, pernas…”
James C. Hunter, autor de
O Monge e o Executivo
citação acima traduz o espírito do que significa lide-
rar. E, mais do que em qualquer segmento, na saúde
essa vocação de inspirar pessoas a agir, a trabalhar
com corpo e alma, deve estar sempre muito pre-
sente. Porque existe uma aura diferente quando se
trata de gerir um negócio nessa área que envolve o
cuidado com a vida humana.
O interesse em ajudar gente, aliás, não raro é o grande responsável pela escolha por
trabalhar com saúde. Foi o que motivou, o médico Paulo Hoff, líder de Oncologia
na Rede d’Or São Luiz de hospitais, presidente da Oncologia D’Or (rede de clínicas
ambulatoriais de oncologia) e vice-presidente e diretor geral do Icesp (Instituto
do Câncer do Estado de São Paulo – Hospital das Clínicas – USP). Ele entrou na
faculdade de Medicina aos 16 anos. “Sempre gostei muito de ciência e queria uma
profissão na qual tivesse a possibilidade de ajudar pessoas”, diz. “Dei sorte, porque
escolher o que fazer da vida tão jovem poderia ter sido um problema, mas, feliz-
mente, à medida que fui cursando a universidade, tive certeza de que estava no
caminho certo”, acrescenta.
E engana-se quem acredita que os grandes líderes nessa área são apenas aqueles
que possuem formação na área médica. Pelo contrário, na área da saúde, os setores
administrativos das mais variadas instituições de saúde são tão importantes quanto
as equipes médicas e de enfermagem, que lidam diretamente com os pacientes. É
o caso de Allan Finkel, vice-presidente corporativo e gerente-geral da Novo Nor-
disk. Segundo ele, certamente o compromisso de lidar com vidas faz do trabalho
na área da saúde uma responsabilidade enorme: “Para se ter uma ideia, só em
2018, foram mais de 1,6 milhão de pacientes beneficiados por produtos da Novo
Nordisk no Brasil. Quando somamos a isso os filhos, pais, avós e outros parentes
envolvidos nas vidas dessas pessoas que convivem com doenças crônicas como
diabetes, obesidade, hemofilia, para citar algumas, chegamos à marca de dezenas
de milhões de vidas impactadas pelo nosso trabalho”, conta o vice-presidente da
empresa da indústria farmacêutica.
AGENTE DE MUDANÇA
Gaetano Crupi, presidente e gerente-geral da BMS
(Bristol Myers Squibb) Brasil, está na indústria farma-
cêutica há quase 42 anos. Ele nunca teve dúvida de que
queria trabalhar como administrador. E, ao ingressar na
área da saúde, juntou o útil ao agradável. “Na Bristol,
sinto-me abençoado por fazer parte de projetos cientí-
ficos que têm a missão de desenvolver produtos de tec-
nologia avassaladora para mudar o curso de doenças
como o câncer”, diz. Crupi afirma que estar em contato
com o núcleo de cientistas, lidar com os seus times e
todos os stakeholders o motiva muito. “Ser um agente
de mudança, criar um modelo de engajamento, onde
todos estejam bem informados e dispostos a adotar
a inovação no dia a dia, é estimulante. Trabalho para
fazer com que a inovação chegue a todos os pacientes
o mais rápido possível. É para isso que acordo todos os
dias e me esforço para fazer acontecer. E, mais do que
isso, me desdobro para motivar todos no meu entorno
a se sentirem assim também”, conta.
Ser um agente de
mudança, criar
um modelo de
engajamento, onde
todos estejam
bem informados e
dispostos a adotar
a inovação no dia a
dia é estimulante.
Trabalho para
fazer com que a
inovação chegue a
todos os pacientes
o mais rápido
possível. É para
isso que acordo
todos os dias e me
esforço para fazer
acontecer.
Gaetano Crupi
BMS (Bristol Myers
Squibb)
Mais do que uma profissão, ser médico
é um sacerdócio. É quase como um
chamado. Porque um bom profissional é
aquele dedicado 24 horas ao paciente.
Paulo Hoff
Rede D’Or São Luiz
Sem demérito a outras profissões, a prática da medicina exige estudo constante, atua-
lização permanente, atenção ao detalhe e disponibilidade completa”, define Paulo Hoff.
Ele, que se especializou em oncologia, também se dedica à área administrativa, aos
seus pacientes na sua clínica, aos afazeres no Icesp e à orientação aos residentes na
USP, uma “prova” de que também é movido pela paixão à causa da saúde.
Outro profissional que acredita que o
trabalho nesse campo é especial é Emer-
son Gasparetto, vice-presidente da área
médica da Dasa, empresa de diagnósti-
cos médicos.
“Costumo dizer que qualquer
pessoa de qualquer equipe
aqui na empresa tem um
propósito muito forte, porque
o seu trabalho pode salvar
vidas. E salva. Isso tem um
valor enorme para todos os
colaboradores. Eles percebem
que podem ajudar a melhorar
o destino das pessoas.”
Emerson Gasparetto
Dasa
INSPIRAR
E LIDERAR
Trabalhar na área da saúde, por si só, não
motiva todo mundo a dar o seu melhor.
Porque, claro, isso depende da cultura
da empresa e, mais do que nunca, das
lideranças. Mas, afinal, será que existe
um roteiro para um líder ser inspirador?
Uma pesquisa da Bain & Company –
uma das principais consultorias globais na área de gestão – publicada no Harvard
Business Review, mostra que não há uma receita, mas existem vários tópicos que
ajudam um líder a se tornar inspirador (note que ele não nasce assim, ele se torna).
Para entender como isso acontece, eles entrevistaram 2 mil pessoas e descobriram,
entre outros achados importantes, que o verdadeiro líder inspirador é aquele que usa
sua combinação única de força para motivar pessoas, individualmente e em equipe, a
assumir missões desafiadoras e responsabilizá-las por isso. Os “liderados” respondem
porque são empoderados e não porque são controlados ou comandados. Ou seja, o
líder inspira pelo exemplo – com ações que demonstram visão, foco, responsabili-
dade, equilíbrio diante do estresse, otimismo, vitalidade, acessibilidade, tolerância e
empatia – e por compartilhar responsabilidades e sucessos.
O líder inspira pelo
exemplo – com ações
que demonstram visão,
foco, responsabilidade,
equilíbrio diante
do estresse,
otimismo, vitalidade,
acessibilidade,
tolerância e empatia
– e por compartilhar
responsabilidades
e sucessos.
Isso está muito claro no dia a dia de Gaeta-
no Crupi, da BMS, ele afirma que um dos
maiores desafios de trabalhar em posições
de liderança é que, à medida que se cresce
na profissão e se passa a liderar, descobre-
-se rapidamente que os seus resultados são
consequência da motivação da sua equipe.
“Quando você é um contribuinte é dono
do seu resultado. Quando é um líder, faz
cada vez menos e depende que os outros
façam mais. Por isso, pessoas serão sem-
pre o maior fundamento da companhia. E,
junto delas, vem a inspiração. À medida
que consegue fazer essa alquimia com os
indivíduos e que todos na equipe enten-
dam o propósito de cada um, a capacidade
de gerar resultados é ilimitada”, afirma.
Assim como Crupi, muitos gestores na área da saúde vêm trilhando o caminho da
liderança inspiradora justamente por reunir características apontadas na pesquisa
da Bain & Company. Ser um líder na companhia em que trabalhava não era um
plano de Emerson Gasparetto. Sua “praia” era o dia a dia com pacientes. Radio-
logista de formação, durante um período, ele conciliou a clínica médica com a
academia, como professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ). Até
que a empresa em que estava foi vendida e ele recebeu um convite para integrar
a área de gestão. Foi assim que migrou para essa esfera.
“Estar no campo da saúde é um privilégio. Porque, queira ou não, fica mais fácil
convencer a equipe dos nossos propósitos. Sem dúvida, meu conhecimento téc-
nico de clínica agrega bastante ao meu dia a dia e ao convívio com os colaborado-
res na Dasa. Mas não uso o fato de ser médico como um supertrunfo. Às vezes,
prefiro me despir desse chapéu e me abrir para ouvir toda e qualquer pessoa da
companhia. Como líder, o que mais faço na minha rotina é conversar com pes-
soas. Reconheço que tenho um papel importante de ‘vender o sonho’ de que há
muitas recompensas de se trabalhar nesse mercado. Sei que preciso inspirá-las a
enxergar a importância do paciente sempre em primeiro lugar”, diz.
DAR O MELHOR DE SI PELO OUTRO
Se liderar times em qualquer negócio exige dedicação
e técnica, no segmento da saúde, talvez, a responsa-
bilidade seja ainda maior. Porque ser uma liderança
inspiradora vai, em última instância, estimular todos
na equipe a dar o seu melhor pelo outro. Para valorizar
e lidar com vidas.
“O grande desafio em todas as posições de liderança
que ocupei (e ocupo) até hoje foi garantir que os times
que trabalham comigo se sintam engajados, motiva-
dos, e façam o seu trabalho com paixão. Sintam que
têm oportunidade de constante desenvolvimento e
prazer profissional. Invisto a maior parte do meu dia
em pessoas. E acredito que temos conseguido resulta-
dos importantes. Nossas pesquisas de clima mostram
que estamos no caminho certo, pois 98% dos nossos
funcionários dizem que têm orgulho de trabalhar na
Novo Nordisk Esse índice me motiva ainda mais a fazer
a diferença na vida das pessoas com quem trabalho.
Para mim, isso é um grande orgulho”, diz Allan Finkel.
SER UM LÍDER NA ÁREA
DA SAÚDE ENVOLVE MAIS
DO QUE SIMPLESMENTE
SABER ADMINISTRAR
UM NEGÓCIO OU UMA
EQUIPE. TEM A VER
COM A PAIXÃO PELO SER
HUMANO E PELO DESEJO
DE FACILITAR O ACESSO
A MEDICAMENTOS,
TRATAMENTOS E
SERVIÇOS QUE MELHOREM
A VIDA DE TODOS
O grande
desafio em todas
as posições
de liderança
que ocupei (e
ocupo) até hoje
foi garantir
que os times
que trabalham
comigo
se sintam
engajados,
motivados,
e façam o
seu trabalho
com paixão.
Sintam que têm
oportunidade
de constante
desenvolvimento
e prazer
profissional.
Invisto a maior
parte do meu dia
em pessoas.
Allan Finkel
Novo Nordisk
Orgulho define também o que Paulo Hoff sente pelos times com os quais trabalha.
“Assumir e desempenhar tantas atividades só é possível porque conto com equipes
que estão na mesma frequência que a minha. Isso é importante, porque, na cultura
latina, temos a tendência de associar o sucesso sempre à figura do chefe. Mas o
líder será bem-sucedido somente se conseguir ter um time forte ao seu redor. A
marca do êxito é o triunfo da equipe, mais do que o seu sucesso pessoal.”
Liderar não é fácil. Ser um líder inspirador é mais difícil ainda. Porque praticar a empatia,
a tolerância, saber ouvir e estar aberto ao novo é um exercício diário. Mas profissionais
como Allan Finkel, Emerson Gasparetto, Gaetano Crupi e Paulo Hoff mostram que é
possível. Os bons líderes só podem ser inspiradores quando conseguem fazer a dife-
rença no recurso mais importante de uma empresa: o capital humano.