Telemedicina
Revista ideaas | DOIS |
19
ESTAMOS
REALMENTE
PREPARADOS?
Ela veio para ficar. E como qualquer novidade, agrada
a muitos, mas ainda suscita dúvidas e desperta desconfianças
a outros. Afinal, a classe médica está preparada para tirar
o melhor proveito da Telemedicina?
J
á faz algum tempo que a Telemedicina vem sendo incorporada ao dia a
dia de médicos, outros profissionais da saúde e pacientes. Às vezes, em
episódios mais corriqueiros, como tirar uma dúvida pelo WhatsApp ou uma
troca de impressões sobre um caso por meio de um telefonema entre especialistas.
No entanto, a oficialização dessas e outras práticas que compõem o cardápio do
que pode ser compreendido e aplicado como Telemedicina ainda não está esta-
belecida. A publicação do edital com todas as definições pelo Conselho Federal
de Medicina aconteceu no começo deste ano. Mas causou tamanho rebuliço que
acabou sendo revogada, refeita e levada à nova consulta para ser republicada – e
para isso ainda não há prazo determinado.
Todo esse panorama dá mostras de que a resposta para a pergunta feita logo
no início deste texto é
“ainda não”. Para Rodrigo
Kikuchi, angiologista e
cirurgião vascular do Ins-
tituto Excelência Vascu-
lar, isso é natural: “Qual-
quer mudança precisa de
um tempo para educa-
ção, adaptação e matu-
ração”, acredita. Kikuchi
Os principais
ganhos com a
é especialista em gestão
Telemedicina
de negócios e participa de
são a proteção
grupos de discussão sobre
dos dados trocados
Telemedicina na Sociedade
entre médicos
Brasileira de Angiologia e
e pacientes que
Cirurgia Vascular e em ins-
deverão ser
tituições hospitalares.
Um dos grandes entraves que empacam a discussão ainda é o argumento de que
o atendimento médico precisa, essencialmente, do exame físico e do contato pre-
sencial, e de um grau de intimidade que, em teoria, não acontece a distância. Além
disso, há a ideia de que o status quo é o melhor, ou seja, não vale a pena mexer
em time que está ganhando – o que é um pensamento geral, não exclusividade
da classe médica.
transmitidos por
meio de sistemas
com codificação
específicas, via
blockchain, por
exemplo.”
O profissional ressalta que
todos tendem a se benefi-
ciar com a regulamenta-
ção da Telemedicina. “Os
principais ganhos são a
proteção dos dados tro-
Rodrigo Kikuchi
cados entre médicos e
especialista
pacientes – que deverão
em gestão de negócios
ser transmitidos por meio
de sistemas com codifica-
ção específicas, via blockchain, por exemplo.” Além disso, com a normatização,
diversas ferramentas vêm sendo desenvolvidas para facilitar e melhorar o telea-
tendimento, como sistemas de prontuário, triagem e de telelaudo – só para citar
alguns. O acesso e a transmissão dessas informações deverão ter segurança e
confidencialidade garantidos.
O que se pretende com a regulamentação é oficializar práticas que já existem e
definir limites do que pode ou não acontecer na relação médico-paciente.
FERRAMENTA COMPLEMENTAR
Para os profissionais que ainda não se sentem confortáveis com a Telemedicina, o
principal contraponto é a crença de que a medicina ficaria banalizada e resumida
a uma porção de médicos sentados em frente a um computador, realizando telea-
tendimentos. “Não acho que seja isso. As ferramentas da Telemedicina são
complementares e existem para facilitar o nosso trabalho. O contato pre-
sencial, a relação médico-paciente e a ética médica sempre serão maiores
do que esses instrumentos”, defende Kikuchi.
ENQUANTO ISSO, LÁ FORA...
Em países desenvolvidos,
como nos Estados Unidos, a
Telemedicina dispõe de serviços de
teleatendimento, dentro dos quais
os profissionais se cadastram e são
acionados pelos pacientes, a exemplo
do que ocorre com planos de saúde,
para consultas feitas remotamente.
Também nos Estados Unidos, caso
seja necessário aferir a pressão
arterial ou auscultar o coração e os
pulmões, por exemplo, o profissional
pode lançar mão da IoT (internet das
coisas), ou seja, aplicativos que podem
fazer isso a distância. Ou encaminhar
o paciente para pontos de apoio para
que a consulta tenha seguimento com
o auxílio de outros profissionais da
área da saúde.r
O QUE VEM POR AÍ
Alguns pontos que estão em discussão e que devem fazer parte da normatização
da Telemedicina no Brasil:
Acompanhamento, a distância, de casos de pacientes
que já passaram em consulta – para conferir e discutir
resultados de exames ou verificar a evolução de um
procedimento que está em processo de troca de cura-
tivos, por exemplo.
Direcionamento adequado de um paciente em um aten-
dimento inicial (teletriagem). O médico levanta informa-
ções por telefone ou outro meio de comunicação e depois
o encaminha para o melhor local ou profissional.
Discussão remota de casos clínicos complexos entre
especialistas, a chamada teleinterconsulta.
Avaliação de resultados de exames de imagem, como
tomografia ou ressonância magnética, por médicos
especialistas, por meio de telediagnóstico.
TERAPIA VIRTUAL JÁ É
UMA REALIDADE NO BRASIL
O que é melhor: a consulta presencial olho no olho ou um atendimento on-line
por videochamada ou mensagens? Não dá para saber. O que se sabe é que a tera-
pia on-line é uma realidade crescente no Brasil e que o tema ainda causa polêmica
entre especialistas. Para os contrários à novidade, a vantagem do atendimento pre-
sencial é ver o paciente de perto, perceber tom de voz, seus gestos – detalhes que
colaboram para o melhor entendimento sobre o paciente e, consequentemente,
facilita o tratamento.
Para os defensores do uso de tecnologia para atendimento terapêutico a distân-
cia, porém, os resultados da terapia on-line são os mesmos e as vantagens para o
paciente são muitas: praticidade e custos mais baixos - o que torna o este tipo de
tratamento mais acessível. Segundo tabela de honorários do Conselho Federal de
Psicologia, uma consulta presencial custa, em média, R$ 239. Os valores de uma
sessão virtual variam de R$ 50 a 250.
Para Rui Brandão, cofundador e CEO da plataforma de saúde emocional e de bem-estar
Zenklub, que oferece psicoterapia on-line, o novo serviço tem outras vantagens, como
o fato de as pessoas ficarem mais à vontade e desinibidas para falar sobre assuntos
íntimos e sensíveis sem ter ninguém presencialmente, sem contar a facilidade de não
terem de perder tempo e gastar dinheiro se deslocando até o consultório. “Hoje, a nossa
saúde emocional está em jogo e cada vez mais pessoas adoecem por problemas como
ansiedade, pânico ou falta de um propósito”, comenta.
A Zenklub é uma das plataformas de atendimento psicoterápico virtual que
começam a despontar no país. “Criamos a Zenklub em 2016 para, com o apoio
da tecnologia, mudar a maneira como de encarar a saúde mental e o bem-estar
emocional”, diz Brandão.
Normalmente o serviço funciona assim: o interessado seleciona um especialista,
escolhe o horário, efetua o pagamento e faz a sessão, de acordo com o agenda-
mento. A conversa pode ser por vídeo, voz ou chat, no site ou app, pelo computa-
dor, tablet ou celular.
A praticidade é inegável, mas é preciso tomar algumas precauções na hora de
escolher o serviço e o terapeuta. É preciso verificar se o psicólogo está inscrito no
Cadastro Nacional de Psicólogos, do Conselho Federal de Psicologia. Vale ainda
certificar-se de que a plataforma escolhida garanta o sigilo de dados dos pacientes
e de que não tenha reclamações, consultando sites como o Reclame Aqui.
ZENKLUB
O que é: plataforma que oferece terapia on-line.
Desde quando existe: 2016
Quem atende: 150 especialistas
(psicólogos, psicanalistas, terapeutas e coachs),criteriosamente selecionados
Onde atua: tem clientes no Brasil todo e em outros 70 países
Quem se já se beneficiou: foram 50 mil consultas da sua criação até o início de 2019
Quanto custa: sessões a partir de R$ 60 (por 50 minutos)
Enquanto a regulamentação não ocorre, a Telemedicina vive o processo de desen-
volvimento e ajustes. Mas que provavelmente quando estiver nos trilhos adequa-
dos, só trará benefícios a todos.