GERAÇÃO Y
Marcia Mathias
Sutiãs, as mulheres reuniram os “objetos de
tortura” muito utilizados na época: cílios pos-
tiços, sprays de laquê, maquiagens, revistas,
espartilhos, cintas, sapatos de salto alto e os
sutiãs. Todos espalhados pelo show do evento
em forma de protesto.
“Assim como nenhum objeto foi queimado
essa história de que as mulheres tiraram o pró-
prio sutiã e expuseram os seios também não
passa de lenda urbana. Esse tipo de exposição
seria inaceitável para a época. Esses boatos
acabaram dando mais força ao movimento
que se repercute até hoje.”, encerrou Andrea
contando que essas mentiras foram criadas
pela forma como a própria imprensa noticiou
o fato.
Com o objetivo de dar uma ampla cobertura
ao evento, a mídia o associou à movimentos de
libertação sexual e os jovens que se opuseram
à guerra no Vietnã, queimando seus cartões
sociais, através dessas ligações o acontecido
recebeu o nome de “bra-burning”, (queima
Protesto do Miss América em Atlanta, EUA, 07/09/1968.
Ao contrário do que muitos pensam a queima-
da dos sutiãs, o símbolo da luta feminista, nun-
ca aconteceu de verdade. O movimento surgiu
no ano de 1968 com a rebelião de 400 ativistas
do movimento WLM (Women’s Liberation Mo-
vement). Nesta ocasião as moças protestavam
contra a realização do concurso de Miss Améri-
ca, considerado grande opressor e impositor de
altos padrões de beleza.
A historiadora Andrea Alves da Silva, de 46
anos, explica a diferença entre os padrões im-
postos nos dias de hoje e os que se tinham na-
quela época.
“Se hoje nós temos altos padrões de beleza, só
é bonito a mulher magra, com traços europeus,
alta, mas não muito. Naquela época os padrões
eram ainda mais absurdos, o racismo era algo
escancarado e os únicos atributos e qualida-
des vistos na mulher eram os físicos. Ninguém
pensava, por exemplo, que elas poderiam ser
inteligentes, ter domínio e amor próprio. Não
foi à toa que aquele grupo se rebelou contra
o concurso, para elas, o maior símbolo dessa
opressão na época.”, explicou Andrea.
O fato é que durante o acontecimento co-
nhecido como Bra-Burning, ou A Queima dos
geracaoy.com.br | Dezembro 2018
de sutiãs). Seguindo esta mesma onda, o New
Your Post publicou uma manchete cujo o título
era“BraBurners and Miss America” (Queima-
doras de Sutiãs e Miss América), que logo ficou
associado às mulheres sem sutiãs.
A estudante de Comunicação Social da UFF,
Helen Lugarinho, de 21 anos, conta que em sua
faculdade o movimento feminista é muito pre-
sente e estimulado pelos docentes e alunos,
mas as lutas devem e passam dos portões da
Universidade.
“Bem como na época do surgimento, o movi-
mento feminista ainda luta pela igualdade de
gêneros em todos os aspectos sociais. Embora
nós tenhamos conseguido muitas coisas, es-
tamos longe de sermos uma sociedade justa.
Existe a questão do salário, insegurança, os
assédios vividos em quase todos os meios em
que nós mulheres frequentamos e a sexualiza-
ção do nosso corpo por parte da mídia”, encer-
rou a estudante.
liberdade
Marcia Mathias
Protesto em Nova York em 1969.
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Após uma adaptação, o que
era símbolo feminino bioló-
gico se tornou o símbolo de
luta para mulheres. No ano
de 1969, o botão feminista
de um punho cerrado den-
tro da figura já conhecida,
espalhou-se para tornar
a marca de libertação das
mulheres. Como origi-
nalmente projetado, era
“vermelho menstrual” em
branco, embora tenha se
transformado em muitas
cores e estilos ao longo das
próximas décadas.
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