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CLOSET GY Caroline Barcellos ... A COM MOD Hoje a GY vai te mostrar que é possível customizar e ajudar nosso planeta a ser mais sustentável. Para entender melhor sobre o universo da customização x sustentabilidade, batemos um papo com a Giselly Martins, de 22 anos, que é gradua- da em Moda e mestranda em Antropologia, e trabalha com reúso de tecidos desde antes de começar a faculdade. Ela con- tou pra gente um pouco da sua história na customização e como sentiu que precisava mudar o mundo junto com a Moda. PROPÓSITO Customizar parece ser um bicho de sete cabeças, trabalhoso que só. O ato de customizar surgiu da década de 60, na onda Hippie pelo mundo. A ga- lera que participava desse movimento usava uma mistura de tecidos, botões, enfeites e flores para chamar atenção ao look e deixar beeem caracte- rizado. A customização apareceu da mesma for- ma que o Hippie, trazendo a necessidade de im- por atitude e personalidade própria em se vestir. planeta precisa URGENTE dessa redução de consu- mo? Estima-se que, só em 2015 foram produzidos 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis no mundo. Tá achando um absurdo? Nós Também! De acordo com a Suzana Moura, que é jornalis- ta e pós graduanda em docência na educação ambiental, somente no bairro Jardim Bom Reti- ro, em São Paulo, onde ficam concentradas uma grande quantidade de fábricas, são descartadas 12 toneladas de resíduos têxteis DIARIAMENTE. “A roupa que usamos vai para algum lugar e 80 % dos casos para o lixo. Os retalhos das fábricas de- veriam ser reaproveitados em outras confecções, para enchimento de estofados, entre tantas outras Já conseguiu trabalhar com reúso? Teve dificuldades? Sim, eu trabalho com reutilização e já tive uma mar- ca que trabalhava com upcycle de jeans, infelizmente a marca acabou, mas eu continuo trabalhando com reu- so porque eu realmente acredito que é uma forma de educação e de minimizar os danos que a moda faz no meio ambiente. Eu também já organizei oficinas de re- ciclagem e moda, em comunidades de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Tenho muitas dificul- dades no trabalho com reúso, porque as pessoas ainda não entendem que é um processo completamente dife- rente que requer outras técnicas e mais pessoas nesse processo, além disso, eu preso por valores que coloco como sustentáveis que são devolução social as comuni- dades, éticas no processo e valorização das pessoas que fazem essas roupas, e nesse sentido no Brasil é muito di- fícil empreender e principalmente com esses requisitos. Certamente você tem aquela peça de roupa que está guardada no armário, mas nem utiliza. Já pensou o que pode acontecer com ela depois que descartar? No Brasil, existe uma lei que as empresas que geram esses resíduos têxteis devem dar destinação cor- reta para os mesmo, mas será que na prática isso Gyselle, você customiza desde quando e da onde surgiu essa vontade de reutilizar as roupas? Na minha infência, todas as pessoas perguntavam o que eu queria ser e eu falava que queria mudar o mundo. No meio do caminho eu fui encon- trando meios de fazer isso acontecer e não entendia muito bem o que me incomodava, mas que eu tinha realmente alguma coisa que me incomo- dava muito. A minha mãe e a minha avó costuravam e eu sempre ficava embaixo da máquina esperando os retalhos caírem no chão pra eu poder pegar e fazer roupas para as minhas bonecas haha. Com 6 anos eu desco- bri que isso era uma profissão e que as pessoas criavam roupas e comecei a falar que queria ser estilista, mas com essa vontade de mudança. Na escola, via que algumas questões na moda precisavam ser mudadas. Não sei exatamente da onde saiu essa vontade de reutilizar e customizar, mas hoje sei que é por conta de uma mudança e acredito que já existe roupa suficiente no mundo e, como criadora e design, eu não posso poluir mais esse mundo. Só no Brasil são descartados 175 mil toneladas de resíduos têxteis por ano, logo a customização e reutilização é uma forma de man- ter esse ciclo da roupa ativo. Retalhos retirados do lixo. acontece? Dentre os tecidos naturais, o algodão quando descartado em aterros leva mais de anos para se decompor e o tecidos de couro levam um século, isso mesmo, 100 anos, podendo ser traçados por bactérias e degradados pela luz. Atualmente onda da reutilização ainda é muito pequena e você já parou pra pensar que o nosso coisas. A sociedade nos impõe que devemos com- prar coisas novas o tempo todo, que quando não usa é só doar (mas algum destino as roupas terão, elas não desaparecem), vivemos em uma sociedade consumista e que não perdoa!” frisa, a docente em educação ambiental. geracaoy.com.br | Dezembro 2018 Giselly ministrando oficina de customização e reúso 24 25 geracaoy.com.br | Dezembro 2018 Qual dica você dá pra quem quer começar e não sabe por onde? Eu sempre falo de uma palavrinha que é a CONSCIÊN- CIA. Tem um livro que eu gosto muito que é do Daniel Miller, Treco, Troços e Coisas, e ele diz que quanto mais consciência a gente tem do que existe fora, mais consciência a gente tem de nós mesmos. Acredito que seja nessa linha, quando a gente começar a com- preender e questionar os processos das coisas, como elas são feitas, quem fez, de onde veio, que material é esse, também vou pensar em “o que que eu vou fazer quando não quiser mais isso?” Não só com a roupa mas com tudo que a gente consome no geral. Toda roupa tem a história das pessoas, então quan- do a gente começa a enxergar isso dessa forma, começamos a entender que não é fútil, não é de se jogar fora e a gente constrói uma outra relação. A moda impõe mas o planeta grita!