CAPA • GY
Luma Borges
“ME ORGULHO DE
SER NEGRA”
“SOU DONA DE
TUDO”
“SOMOS IGUAIS”
MarI GOMES
M
“
ariana Gomes tem 16 anos, evangélica e tem um talento incrível, ela canta lindamente.
Dona de um astral incrível mostra que é forte desde novo, resistindo ao preconceito e se libertando
dos seus próprios medos.
Eu já sofri bullying,preconceito...
Quando eu era bem pequena, por volta dos
meus quatro ou cinco anos, não tinha nem no-
ção do que era a vida. Estudava em um colégio
como qualquer criança normal de minha idade, aos
poucos minha mãe começou a notar que eu não
tinha amigos, ficava sozinha e isolada. Passado
algum tempo, percebi que era constantemente dis-
criminada porque eu tinha o cabelo cacheado, tinha
o nariz larguinho e as crianças me excluíam de uma
forma brusca, até minhas próprias professoras. Eu
não tinha noção de nada e já passava por isso tudo.
Já fora da escola, teve um outro episódio que me
marcou muito. Meu pai e eu fomos viajar, ao visitar-
mos um dos pontos turísticos do local, um grupo de
pessoas ficaram espantadas com nossa chegada e
se esconderam de nós. Quase pude escutar seus
pensamentos “negros, que nojo”. Isso mexeu comigo
(Mariana se emociona e chora) foi uma experiência
ruim. Ali eu já sabia o que era preconceito, eu tinha
uns doze ou treze anos. Foi muito triste, eu não en-
tendia porque as pessoas tinham tanto preconceito.
A minha família toda é negra, eu não queria de-
monstrar para ninguém, porque achava que ser ne-
gro era ser alguma coisa errada. Eu achava que ser
negra era ser algo ruim e durante muito tempo fui
trabalhando aquilo que todos queriam que eu acei-
tasse, que ser negro era horrível, ter um cabelo
cheio... Até que um dia eu resolvi alisar o cabelo,
porque eu achava que se tirasse o cabelo cache-
ado eu seria menos negra, uma forma de negar
minha raça, o que eu sou, porque quanto
menos negra pra mim era melhor.
E hoje, graças a Deus, eu me
aceito.
@mari_gomea
Mari veste: Now Ateliê
Foto: Tainara Cal
Produção: Luma Borges
Eu lidei com o passado, eu re-
almente não me aceitava, eu
odiava ser negra. Hoje em
dia eu me acho linda, mara-
vilhosa, dona de tudo. Eu
me amo. E nesse processo
todo, me trouxe um proces-
so de aceitação, onde mi-
nhas amigas me ajudaram
muito e sempre me botavam
pra cima. Fui criando minha
própria identidade, fui me construindo e eu não me vejo
mais diferente do que sou: negra! Graças a Deus con-
segui passar por essa onda de preconceito, uma coisa
que dói, tanto que chorei, que machuca muito. Acho que
o preconceito não deveria existir, porque como eu já tinha
dito: nós somos iguais.
Fico me perguntando porque toda essa discriminação,
acho um absurdo tratar as pessoas com diferença.
Sou negra e me orgulho de ser negra e da mulher que
estou me tornando.”
VOCÊ É
MAIS FORTE
DO QUE
PENSA!