Revista Febase 85 - Julho 2018 Revista Febase 85 | Page 3

EDITORIAL Também as empresas, que hoje tanto apregoam nos seus balanços sociais a implementação de medidas de responsabilidade social, o façam efetivamente no que respeita à gestão dos recursos humanos Carlos Marques A demografia, a contratação coletiva e a responsabilidade social F oram recentemente publicadas estatísticas por parte do Instituto Nacional de Estatística que apontam para uma redução da população portuguesa nos próximos 40 anos, que perspetivam num cenário conser- vador uma redução de cerca de 2 milhões de habitantes, podendo, no cenário mais desfavorável, chegar essa redução a menos 4 milhões de portugueses. Isto é, passarmos de cerca de 10,5 milhões em 2018, para 6,5 milhões num es- paço de pouco mais de quatro dezenas de anos. Seja qual for o cenário pelo qual sejam olhados estes números, uma ver- dade subsiste. A população portuguesa sofrerá uma redução muito significa- tiva, a menos que sejam tomadas medidas urgentes e efetivas que permitam controlar a redução e essencialmente inverter esta tendência deslizante e preocupante. Não são, por isso, de estranhar as recentes tomadas de posição do setor po- lítico da nossa sociedade com algumas propostas, por enquanto ainda longe do que se terá de fazer, é pelo menos essa a minha opinião, mas que essencial- mente possuem a virtude de despertar a sociedade para este grave problema. Aqui chegados, importa que ao nível do patamar de intervenção do movi- mento sindical haja igualmente uma discussão muito séria sobre este tema e de que forma a legislação laboral e o conteúdo da contratação coletiva podem contribuir para este combate, que por agora se afigura desigual. A introdução de mecanismos complementares de proteção à paternidade e maternidade, uma maior flexibilidade na aplicação de horários adequados ao acompanhamento das crianças, o elevar da consciencialização por parte dos progenitores da importância do envolvimento no crescimento dos filhos, o fim à praga dos contratos precários, permitindo assim uma maior estabilidade aos trabalhadores e trabalhadoras são, estamos certos, alguns dos aspetos onde o movimento sindical pode e deve fazer mais e melhor. Mas importa, para que isto tenha êxito, que também as empresas, que hoje tanto apregoam nos seus balanços sociais a implementação de medidas de responsabilidade social, o façam efetivamente no que respeita à gestão dos re- cursos humanos. Saibam cumprir e fazer cumprir os horários de trabalho, não alimentem uma doentia competição, para a qual são atraídos os trabalhadores e trabalhadoras, de ver quem é o primeiro a entrar e o último a sair. É funda- mental aqui uma mudança de comportamentos. Todos não somos demais para contribuir para a mudança. FEBASE | julho | 2018 – 3