liberdade
CAPILAR
EM ALTA, A CABEÇA RASPADA VIRA UM SÍMBOLO DE REIVINDICAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS, QUE EXIGEM ESCOLHER, SEM SER JULGADAS, O ESTILO DE CABELO QUE QUISEREM - INCLUINDO LOIROS E LISOS.
POR CAROLINA SANTOS PINHO
C
omo uma mulher negra que já usou o cabelo raspado por dois anos, eu sei que, em geral, as pessoas não acreditam que optamos por esse corte. Acham que fomos levadas a fazê-lo por motivos maiores, como
a saúde ou a religião. Entretanto, as mulheres cada vez mais ampliam as suas possibilidades de atuação para além do que tem sido imposto a elas. A liberdade capilar é um termo usado para denominar um movimento que visa libertá-las de parâmetros ligados à estética de cabelos. Se as mulheres brancas podem usá-los dos mais diversos comprimentos e tonalidades, as negras estão demarcando um espaço e dizendo: nós também exigimos liberdade! É mais uma forma de combater pârametros estéticos que ajudam a aprisioná-las em determinado lugar social. Praticar a liberdade capilar é uma forma de explorar as diversas possibilidades que o cabelo crespo pode oferecer - entre eles, usá-lo bem curto ou totalmente raspado.
Personalidades como as cantoras Rokia Traoré e Solange Knowles, além das atrizes Thalma de Freitas e Lupita Nyong'o, usam ou já usaram a cabeça raspada como uma opção estética. Mas, quando falamos em referência de mulher negra com esse corte, não podemos deixar de destacar a modelo e cantora jamaicana Grace Jones. No auge dos anos 1980, quando a mai-
oria das artistas negras ainda alisava o cabelo, Grace rompia diversos estereó-tipos com sua voz poderosa e seu cabelo sempre muito curto. Tanto ela quanto Solange, Thalma, Lupita e Rokia viram uma referência para que outras mulheres negras raspassem o cabelo recentemente, numa atitude que não é isolada.
Saindo da seara das famosas, os exemplos continuam: foi a busca por liverdade capilar que fez a costureira e especialista em personalização de perucas Joicecleide Bispo, 35 anos, raspar a cabeça no início de 2018. Depois de muitos anos usando alisantes químicos no seu cabelo crespo para se encaixar em parâmetros de cabelo liso, ela conseguiu se livrar dessa imposição cultural. O alisamento vinha causando problemas físicos e psicolígos, e raspar a cabeça foi uma decisão tomada depois de anos de reflexão.
Já para Dandara Barbosa, 29 anos, raspar a cabeça significou "se libertar de uma prisão". Foram anos de processos químicos e, mesmo com medo de perder a feminilidade, ela resolveu raspar o cabelo e se apaixonou. Hoje, define os receios que teve como "medos bobos", mas que são frutos de estereótipos de feminilidade que perseguem as mulheres e geral e são inda mais duros com as mulheres negras. Ativista nas redes sociais e fora delas, "preta, gorda e espalhando autoestima por aí" (como se descreve), representante comercial teve um post viralizado quando se fotografou de biquíni fio-dental numa praia do Rio de Janeiro, onde mora.
Grace Jones em sua música "Escravo do Ritmo"
Carolina é PhD em educação e dona do e-commerce Central das Divas.
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