Ela se interessa por moda? Você a apoiaria a antrar nessa carreira?
Sim, ela ama moda. Eu apoiaria se ela fosse um pouco mais velha. Não quero que ela seja destruída cedo demais, enquanto ainda não desenvolveu sua própria força. Porque é dificil, sabe? A moda é difícil. Você leva para o lado pessoal por ser rejeitada muitas vezes. Existe competição, é sobre sua aparência, existem questões corporais. Há tantas coisas, e você precisa encontrar uma forma de ficar acima disso e não se sentir destruída toda vez que alguma coisa acontecer. É preciso mais tempo para crescer.
Você vê alguma melhora na indústria, considerando todo o tempo que está nela?
Ela está ficando mais diversa, mas ainda é uma indústria que constrói imagens e há muita pressão. A diversidade não pode ser só uma tendência que deixe de existir amanhã porque saiu de moda. Essa é a parte perigosa. Nós tendemos a apontar o tempo todo e fazer com que a diversidade vire uma "coisa". Quando falamos de corpo, existem poucas meninas ainda. Existe a Ashley Graham, por exemplo, e ela é linda. Mas por que temos que ficar falando: "Ah, ela é uma modelo plus size"? Por que temos que identificá-la dessa forma? Ela é apenas uma garota bonita na passarela.
Você acredita que em algum momento chegaremos a esse ponto?
Eu não sei, mas se não chegarmos não será realmente diverso. Porque sempre será essa pequena coisa e aí já era. Na próxima temporada algo novo será cool. E é esta a questão: você não quer ser uma coisa cool. Teria que ser: "Olha, aqui está uma garota bonita. Vamos fotografá-la". E seguir em frente. A mesma coisa com cor, gênero, tudo.
Também há um debate grande sobre sustentabilidade e ética na moda hoje. Sendo empresária, como faz para levar adiante sua marca sem sair da ideia de fast fashion?
Acho que o que fazemos é naturalmente muito diferente. Nós queremos celebrar o trabalho dos artesãos, empregar pessoas e tentar mudar o ciclo de pobreza, além de trazer um pouco da beleza do que é feito manualmente para o mundo da moda. Por causa da natureza de nosso produto e de nossa história, acredito que sempre vá ficar bastante controlado. Fazemos roupas atemporais, confortáveis, que duram e que todos podem usar.
A GENTE DEVERIA DIZER MAIS A PALAVRA 'JUNTOS', EM VEZ DE FALAR 'EU SOU TÃO ESPECÍFICO E PRECISO DE COISAS SÓ PARA MIM'.
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O Eternity é um perfume que atravessou gerações e virou um ícone. Qual é a sua primeira lembrança dele e quais são os valores que ele representa que você carrega?
Minha primeira recordação na verdade é sobre um perfume masculino por causa de um garoto por quem eu tinha uma queda no ensino médio. Me faz lembrar desse momento muito doce, mas também muito maduro, e mesmo naquela época eu achava aquilo muito sexy. A ideia de amor e infinidade, algo que conecta e continua, é algo que eu carrego.
ETERNITY - CALVIN KLEIN
Lyia Kebede, Jake Gyllenhaal e Leila (4 anos)
Você pensa que as redes sociais podem ajudar a empoderar mulheres de alguma forma?
As redes sociais são complicadas. Acho que ainda não entendemos qual é a melhor maneira de usá-las. Eu tenho dificuldade porque elas são uma faca de dois gumes. Podem ser empoderadoras, mas também banalizam tudo. Elas fazem muito barulho. Muitas mensagens acabam se diluindo por causa de todo esse barulho, mas ao mesmo tempo algumas realmente conseguem sobressair e elas empoderam, como o movimento #MeToo. Elas são um animal estranho, que não pode ser domado. Por isso não estou muito segura, e sou um pouco cética. Mas elas mudaram muita coisa. Mudaram a moda e levaram o mistério embora, o que eu não gosto muito. Elas estão colocando muita pressão em todo mundo e isso é complicado.